Vá de férias sem stress!

Férias sem stress

Apesar de agosto já não ser o mês típico de férias de há uns anos atrás, para a semana muitos iniciam as suas férias tão desejadas.

As férias são essenciais para a saúde mental pois, na sua maioria, possibilitam, compensar “tempo perdido”, desligar do frenesim e do piloto automático do quotidiano, estando menos tempo em modo de fazer e mais em modo de ser e de estar, em contacto com o momento presente. É o tempo de relaxar sem culpa, das actividades prazerosas, de se estar com família, amigos, de visitar aquele novo país ou local, ou de regressar ao nosso lugar especial onde nos sentimos tão bem. Esta mudança de ritmo é muito importante para o equilíbrio emocional e físico, pois permite-nos recarregar baterias e voltarmos às nossas actividades habituais mais enérgicos, produtivos e até criativos
Contudo, como tudo na vida, a adaptação a este período tão desejado poderá não ser fácil, seja por termos expectativas irrealistas, seja por não termos o dinheiro para a concretização das “férias de sonho”, ou por não nos acharmos merecedores de momentos de paz e tranquilidade ou ainda por alterarmos bruscamente os nossos ritmos de sono, alimentares e de actividade física.

Deixamos por isso, algumas dicas para umas férias com menos stress:

• Antes de ir de férias resolva assuntos pendentes, para não darem lugar a futuras preocupações.
• Pense no que realmente é importante para si e planeie algo em conformidade, de forma a evitar a sensação de não ter aproveitado as férias.
• Se tiver filhos que já não sejam de colo, procure tirar alguns dias para si, sozinho e/ou em casal.
• Alimente-se de forma equilibrada, com refeições leves e frescas e não descure a actividade física. Pode não ter possibilidade de praticar o que está habituado, mas tem outras alternativas como caminhadas, passeios de bicicleta e variadas actividades náuticas.
• Evite uma calendarização excessiva das suas férias, permitindo-se desfrutar de momentos imprevistos e já agora, libertar a criança que tem em si.
• Conecte-se ao presente, ao aqui e agora. Está na praia? Sinta o calor do sol ou o refrescante banho de mar na sua pele, oiça o barulho das ondas e das gaivotas, cheire a maresia, delicie-se com a bola de Berlim, observe a paisagem luminosa e colorida.

Vá de férias sem stress e, quando regressar, não espere mais onze meses para continuar a cuidar de si.

Catarina Barra Vaz -Psicoterapeuta e Neuropsicóloga

Necessidades Psicológicas

Necessidades Psicológicas (5)

Todos nós temos as nossas necessidades próprias que variam consoante a fase da nossa vida e a importância que atribuímos a cada uma delas.

O modelo de necessidades mais conhecido globalmente é a pirâmide de Maslow que defende a existência de três grandes tipos de necessidades:

Necessidades básicas: Fisiológicas (alimento, repouso, vestuário, habitação) e Segurança (saúde, emprego, propriedade, família e recursos);

Necessidades Psicológicas: Amor/Relacionamento (amizade, família, intimidade sexual) e Estima (Auto-estima, auto-confiança, respeito dos outros)

Necessidades de Auto-realização: Realização pessoal (moralidade, solução de problemas, aceitação da realidade)

António Branco Vasco, professor e psicoterapeuta português, defende que as necessidades psicológicas são as condições que precisamos para o nosso bem-estar psicológico, para nos sentirmos bem connosco próprios e consequentemente com os outros e com o mundo.

Identifica 14 necessidades psicológicas vitais, cujo grau de satisfação é sinalizado pelas emoções e resulta de um processo contínuo de negociação e balanceamento das 7 polaridades dialéticas:

Prazer: capacidade de conseguir disfrutar de momentos que oferecem prazer, bem-estar e retirar sensações agradáveis dessas experiências.

Dor: capacidade de tolerar o sofrimento, de o encarar e aceitar como produtivo e inevitável perante circunstâncias dolorosas e entendê-lo como algo com que é possível crescer e aprender

Proximidade: Capacidade para estabelecer e manter relações íntimas

Diferenciação: Capacidade de se diferenciar e ser determinado nas suas escolhas que define quem é

Produtividade: Capacidade para alcançar e realizar acções importantes para o próprio

Lazer: Capacidade de relaxar e estar confortável com essa sensação de relaxamento

Controlo: Capacidade de o indivíduo influenciar o ambiente que o rodeia

Cooperação ou Cedência: Capacidade de delegar e abdicar de recompensas imediatas por outras melhores no futuro, na partilha do controlo pessoal

Exploração ou Actualização: Capacidade de explorar e de se expor ao que é novo

Tranquilidade: Capacidade de se aproveitar o que se tem no momento presente

Coerência do Self: Congruência entre o que pensa, sente e faz

Incoerência do Self: Capacidade de tolerar conflitos e incongruências ocasionais

 

Auto-Estima: Capacidade de se sentir satisfeito consigo próprio

Auto-Crítica: Capacidade de identificar, tolerar e aprender a partir das insatisfações pessoais

Os estudos feitos com base neste modelo apontam a regulação das necessidades de Tranquilidade, Proximidade, Auto-crítica e Auto-estima como melhor predictor de bem-estar.

De forma a sentir-me melhor consigo próprio, proponho que reflita sobre o seu grau de satisfação actual em cada uma das 14 necessidades psicológicas e procure o que lhe faz falta em cada uma delas. Deixo-lhe aqui algumas sugestões, necessidade a necessidade:

Prazer: Faça o que lhe dá prazer e esteja atento às sensações corporais;

Dor: Relativize a dor, tomando consciência de que ela não dura para sempre e procure retirar conhecimento dessa experiência;

Proximidade: Procure estar com as pessoas de quem gosta e conhecer pessoas novas;

Diferenciação: Mesmo sendo diferente das dos outros, afirme as suas escolhas, emoções ou ideias, de forma assertiva, tendo a noção que tem o direito à sua individualidade;

Produtividade: Planeie e execute actividades importantes para si e parabenize-se quando tenta alcançar os seus objectivos;

Lazer: mesmo que tenha coisas por fazer tire momentos para descansar e relaxar;

Controlo: Tome consciência das coisas em que tem controlo na sua vida ou que dependem de si

Cooperação/Cedência: Observe as coisas que não dependem somente de si, delegue/peça ajuda em tarefas que o sobrecarreguem;

Actualização/Exploração: Faça coisas novas e atente ao que aprendeu de novo a cada dia;

Tranquilidade: Observe o que tem de bom no momento presente;

Coerência do Self: Esteja atento ao que pensa, sente e faz e perceba se existe coerência nestes momentos;

Incoerência do Self: Atente aos seus conflitos interiores, se faz coisas contra os seus valores ou emoções e reflicta sobre as suas possíveis causas;

Auto-estima: Registe o que gosta em si

Auto-crítica: Observe as coisas a melhorar em si.

Catarina Barra Vaz – Psicoterapeuta e Neuropsicóloga

Luto e redes sociais

Luto e redes sociais

  Estamos permanentemente ligados nas redes sociais, partilhando estados, fotografias, fotos, normalmente de momentos agradáveis com a sensação de um contacto imediato com os outros. As mortes recentes de Robin Williams, Rodrigo Menezes, entre outros e milhares de partilhas e comentários associados puseram-me a pensar na temática da morte nas redes sociais.

       De facto, é natural que as redes sociais sejam usadas em momentos de perda, pois a sua imediaticidade e “omnipresença” permitem expressar a dor e receber mensagens de apoio num momento delicado, sentindo a compaixão de quem nos quer bem. Devido à evolução médica, vivemos cada vez menos em presença da morte. Já não se morre tanto em casa como antigamente, a esperança média de vida é maior e as famílias vivem os seus lutos cada vez mais tarde, o que, apesar de bom,  dificulta o processo de luto. Os próprios rituais são cada vez mais rápidos e quase que só se tem direito a chorar, quando ninguém vê, nem escuta. É-nos cada vez mais difícil estar em contacto com a morte e as redes sociais dão-nos uma distância, aparentemente segura e indolor, desse contacto. Afastamo-nos cada vez mais da tristeza. Paradoxalmente, nas mesmas redes, tudo o que é publicado fica registado para sempre, não podendo ser apagado.

     Segundo Worden (1991) o processo de luto, que tem um duração variável consoante o enlutado e o relacionamento deste com o falecido até à fase final da aceitação, envolve as seguintes tarefas:

  • Aceitar a realidade da perda;
  • Ultrapassar a dor da perda;
  • Ajustar-se a um meio em que a pessoa morta não está presente;
  • Retirar a energia emocional da pessoa falecida e reinvesti-la em novas relações.

       Agora imagine o seguinte cenário. Está emigrado num qualquer país asiático, com uma diferença horária de 8 horas de Portugal. O seu irmão morre num acidente de viação de madrugada e os seus pais, em choque, acham melhor, só lhe comunicarem no dia seguinte. Você acorda de manhã, pega no seu telemóvel e vê uma notificação de um amigo seu a lamentar a morte do seu irmão, que você desconhecia. Dá que pensar, não dá?

Catarina Barra Vaz  – Psicoterapeuta e Neuropsicóloga

 

Pelo seu bem-estar, medite!

meditação

A prática diária de meditação, permite-nos relaxar, observarmo-nos e conectarmo-nos connosco próprios duma forma mais presente, no aqui e agora, com inúmeros benefícios quer na nossa saúde física, quer na nossa saúde mental. Esta prática não é exclusiva dos monges budistas e está ao alcance de todos nós. Basta querer e procurar informação, pois é muito simples e gratuita.

Antes de mais, liberte-se da ideia de que não irá conseguir ou de que é muito difícil e predisponha-se apenas a experimentar, sem pressa e ao seu ritmo.

Existem vários grupos com cursos iniciais de meditação. Quando realizada em casa, é aconselhável escolher um local tranquilo e reduzir a possibilidade de ser interrompido. Poderá usar velas, incenso ou música própria para tornar o local mais acolhedor para si. Também poderá praticar no campo, na praia ou em jardins públicos, desde que se sinta à vontade para tal.

Vista roupa confortável e sente-se num colchão de ginástica ou em almofadas, com os joelhos no chão, os pés em cima das coxas e a coluna direita. Se preferir, poderá sentar-se numa cadeira ou deitar-se. Pode fechar os olhos ou mantê-los abertos.

Comece por 3 minutos no mínimo e vá evoluindo. Hoje em dia, além dos cronómetros existem aplicações para telemóveis que o ajudam com sinais sonoros ou música a controlar e aumentar o seu tempo de meditação. É recomendada a prática diária. Para tal, poderá encará-la como a lavagem dos dentes. Com os benefícios que começará a notar senntir-se-á motivado para praticar cada vez mais.

Existem muitas técnicas possíveis e cada um de nós tem a sua predilecta. Aconselho-o a iniciar pelo relaxamento do seu corpo, depois de estar na posição que escolheu. Relaxe, faça três respirações profundas e concentre-se na sua respiração. Adopte a respiração abdominal imaginando que está a encher um balão na sua barriga quando inspira (4 segundos) e a esvaziá-lo quando expira (8 segundos). Permaneça neste estado de respiração consciente sentindo a ar a entrar pelas narinas e a sair pela boca entreaberta. Se quiser, pode rotular a sua respiração, dizendo mentalmente “dentro” quando inspira e “fora” quando expira. Vá aumentando o número de respirações ao longo do seu treino.

Após uma semana de meditação com respiração abdominal (que idealmente, com o treino já lhe é automática), acrescente a seguinte técnica: inicie a sua respiração abdominal e observe os seus pensamentos, emoções ou dados sensoriais (odores, ruídos, imagens, etc) sem os parar. Eles aparecem, mas deixe-os ir, não se julgue nem os agarre. Se permanecerem mais tempo, não se preocupe, deixe-os ir. Permaneça assim o tempo da sua meditação e sinta-se mindful.

Vá, não hesite, medite!

Catarina Barra Vaz – Psicoterapeuta e neuropsicóloga

Dificuldades na intervenção na Depressão

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Portugal é o país europeu e o segundo do mundo com maior taxa de depressão na ordem dos 25%, pelo que, apesar das variáveis com melhor predição no sucesso terapêutico serem as carcterísticas do próprio paciente e a relação terapêutica em vez do correcto dignóstico de Eixo I, é urgente compreendê-la e antecipar dificuldades específicas.

Na maior parte das vezes, a depressão tem na sua base uma vivência de abandono ou perda, que face a um deteminado acontecimento de vida, activa crenças de incapacidade, falha, culpabilidade invadindo o funcionamento relacional, profississional e social de quem a sofre e aniquilando uma vivência tranquila do aqui e agora. Parafraseando o Professor Coimbra de Matos “nada ou pouco interessa no presente real e pouco ou nada é imaginado como bom ou apetecível no amanhã”.

A lentificação e a falta de prazer poderão constituir dificuldades ao terapeuta, nomeadamente, impaciência face à sua genuína vontade de ajudar o paciente. É também necessário que o clínico se sinta confortável para lidar com a temática da morte, tantas vezes presente, quer em pensamentos quer em acção, na depressão. Face à tristeza, é natural sentir compaixão, e por vezes,  um impulso de tirar a pessoa do seu “buraco negro”, que deveremos refrear. A validação e a empatia assumem aqui um papel fundamental. Deveremos “ver” a sua história na sua prespectiva, sem julgamento, reconhecendo o seu sofrimento, e mostrando que estaremos ao lado dele, sem pressa. Só assim, este poderá reescrevê-la, aceitá-la e, mais tarde, implementar as mudanças necessárias para recuperar o contacto consigo e com o mundo. Qualquer ganho, por mais pequeno que seja, como por exemplo, ficar na cama 14 horas e 45 minutos por dia em vez das15 horas habituaus deverá ser reforçado.

Assim, deveremos ser responsivos na nossa intervenção, ou seja, o processo terapêutico deverá ser como uma dança, cujo ritmo é dado pelo paciente, com o objectivo comum de melhoria do seu bem-estar.

Catarina Barra Vaz – Psicoterapeuta e Neuropsicóloga

 

 

 

 

 

Stress

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Stress

Parte 1 – O que é?

A sociedade moderna encara, na maior parte das vezes, o Stress como algo negativo, mas, na sua definição, “o Stress é um conjunto de reacções orgânicas e psicológicas de adaptação que o organismo emite quando é exposto a qualquer estímulo que o excite, irrite, amedronte ou o faça muito feliz (Hans Selye) ”.

Determinados acontecimentos de vida de vários tipos como viuvez, divórcio, doença ou incapacidade física, casamento, desemprego, guerra, catástrofes naturais, nascimento de um filho, excesso de trabalho, entre outros provocam um desequilíbrio entre as solicitações que são feitas ao individuo e os recursos de que dispõe para lhes responder.

Biologicamente, face a este desequilíbrio, a hormona cortisol é produzida e libertada, aumentando a pressão arterial, o açúcar no sangue e a tensão física e psicológica. O organismo entra em modo de sobrevivência parando de renovar células e tecidos para concentrar toda a energia que consegue.

Contudo, na maioria das vezes temos e conseguimos utilizar estratégias de coping (enfrentar/lidar) para restabelecer a ordem interior, eliminando o stress. Assim, o stress só constitui um risco para a segurança e a saúde quando se torna persistente.

Podemos então diferenciar vários tipos de Stress (usando a terminologia anglo-saxónica):

Stress agudo: em situações extremas, normalmente de perigo de vida, como cenários de guerra, catástrofes naturais e acidentes em que é desencadeada a resposta de luta ou fuga

Stress crónico: oriundo da vida diária como contas, filhos, trabalho, etc., quando ignorado e persistente.

Eustress: originado por acontecimentos de vida positivos como nascimento de um filho, casamento, promoção, etc.

Distress: com origem em acontecimentos de vida negativos como viuvez, divórcio, desemprego, dificuldades no trabalho, etc.

Deve-se ressalvar que por vezes, níveis de stress medianos aumentam e melhoram o desempenho do indivíduo.

Nos casos de distress, especialmente crónico, podemos destacar vários efeitos no indivíduo:

-Emocionais: irritabilidade, ansiedade, perturbações do sono, depressão, hipocondria, alienação, esgotamento, problemas familiares;

-Cognitivos: dificuldades de concentração, de memória, de aprendizagem e de tomada de decisão;

-Comportamentais: impulsividade, abuso de substâncias, perda de apetite ou grande aumento;

-Fisiológicos: dores lombares, défice imunitário, úlceras, problemas cardíacos, hipertensão, anergia, problemas de pele.

No próxima publicação abordarei estratégias de regulação do stress por forma a, caso se encontre em stress, possa viver de uma forma mais equilibrada e consequentemente, com maior bem-estar.

Catarina Barra Vaz – Neuropsicóloga, Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

Pseudodemência depressiva – quando a depressão parece demência e a demência parece depressão.

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A depressão afecta uma em dez pessoas com idades acima dos 65 anos, sendo a perturbação mais comum ao nível da saúde mental em idosos e é frequentemente desvalorizada por pacientes, técnicos de saúde e familiares, sendo considerada como parte integrante do envelhecimento.

Isto talvez porque na depressão na terceira idade, além da apatia e fraca motivação, também típicos do envelhecimento, existem normalmente poucas queixas de tristeza que, por sua vez, é muitas vezes substituída por hipocondria e preocupações somáticas. No entanto, a depressão tem vindo a aumentar reduzindo a qualidade de vida, aumentando incapacidades físicas, sendo uma das principais causas de dependência funcional de outros cuidadores para actividades da vida diária como higiene e alimentação e é uma dos maiores preditores de suicídio na terceira idade.

Muitas das vezes, a depressão na terceira idade vem acompanhada de perdas cognitivas, sendo nestes casos denominada de “pseudodemência depressiva” – o que dificulta o diagnóstico diferencial entre depressão e demência. Muitos dos sintomas depressivos como a desmotivação, apatia, embotamento afectivo, dificuldades de concentração, discurso e psicomotricidade lentificadas, são também sintomas de quadros demenciais.

Sendo assim, como podemos diferenciar depressão e demência na terceira idade?

A ordem de ocorrência dos sintomas constitui um factor que ajuda na diferenciação entre depressão e demência pois normalmente os doentes cujas alterações cognitivas procederam os sintomas depressivos parecem ter maior probabilidade de estarem a desenvolver uma “verdadeira” demência, do que aqueles nos quais a sintomatologia depressiva precedeu às alterações cognitivas.

Pessoas com depressão, catastrofizam as suas dificuldades mnésicas e podem até ter resultados inferiores à média nos testes de memória, mas isto apenas acontece, não por dificuldades mnésicas reais, mas por pouca motivação para o desempenho de tarefas. Normalmente apresentam maiores dificuldades na memória a longo prazo, o que poderá ser confirmado através de uma avaliação neuropsicologia que escrutina as várias memórias. É também fundamental avaliar se as dificuldades mnésicas se instalaram súbita ou gradualmente e se se o idoso tem historial familiar de depressão ou demência.

No entanto, muito frequentemente, um quadro clínico de demência pode acompanhar-se de depressão, o que dificulta o diagnóstico diferencial.

O diagnóstico diferencial deverá ser preferencialmente realizado por um médico especialista, nomeadamente da especialidade de Neurologia ou Psiquiatra.

De entre os vários exames complementares que poderão ser requisitados, tais como a T.A.C. (Tomografia Axial Computorizada) ou R.M. (Ressonância Magnética) crânio-encefálicas, é também aconselhável a realização de uma avaliação neuropsicológica.

A título ilustrativo deixo uma tabela com o resumo das principais diferenças entre depressão e demência na terceira idade.

    Depressão                                                        Demência

Inicio bem demarcado                                          Início indistinto

História familiar de depressão                         História familiar de demência

Queixas de perdas cognitivas                          Poucas queixas (do próprio) de                                                                                                        perdas cognitivas

História de dificuldades psicológicas            História de dificuldades psicológicas                     ou de crise de vida recente                        ou de crise de vida pouco frequente

Perdas cognitivas posteriores                       Perdas cognitivas anteriores                              à sintomatologia depressiva                       anteriores aos sintomas depressivos

Pouco esforço durante a aplicação                  Frequente luta para executar do                            exame neuropsicológico                                    as tarefas cognitivas

Maiores défices na memória                          Maiores défices na memória                                      a longo prazo                                                       a curto prazo

Melhoria de défices cognitivos                          Melhoria pouco significativa dos défices com medicação anti-depressiva                        com antidepressivos

Catarina Barra Vaz – Neuropsicóloga, Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

Aceitação

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Aceitar o que o presente nos dá, a nossa história pessoal, as nossas vulnerabilidades e os nosso erros é muitas vezes um processo doloroso mas sem ele dificilmente conseguiremos estar plenamente no aqui e no agora.

Errar faz parte da condição humana e é uma fonte preciosa de aprendizagem. De facto aprendemos em todos os caminhos principalmente nos piores ou mais difíceis que muitas das vezes são os que nos tornam mais resilientes e nos obrigam a evoluir.

Esta auto-aceitação deve ser activa e validante ou seja, não uma resignação e desistência de si ou dos outros, caso contrário não haverá espaço para a mudança e crescimento pessoal.

A aceitação de acontecimentos, traumáticos ou não, da nossa história pessoal é também crucial para o nosso bem-estar psicológico. Todas as nossas experiências contribuem para o que somos e ao apagarmo-las ou recalcarmo-las da nossa memória consciente, estamos também a negar o que somos, incluindo as nossas qualidades.

Muitos dos pedidos em psicoterapia prendem-se com o desejo de mudar algo no próprio, com o qual se sente insatisfeito. Esta mudança só poderá ocorrer depois de nos aceitarmos. Muitas vezes basta esta aceitação para surgirem as mudanças desejadas. Por exemplo, quem deseja ser menos ansioso, ao aceitar a sua própria ansiedade simbolizando-a e integrando-a deixa de ficar tão constrangido com a mesma, baixando os níveis desta.

Assim, como OSHO postula, “Aceite-se como é, você é único, incomparável”.

Catarina Barra Vaz – PSICÓLOGA CLÍNICA E PSICOTERAPEUTA

Ansiedade: para quê pensar no amanhã se pode viver hoje?

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A ansiedade é um estado emocional no qual a pessoa se sente tensa com algo que lhe poderá acontecer. Ela poderá ser adequada e ajustada quando o estado de alarme inerente nos protege contra ameaças reais, ou seja, há um estímulo contra o qual reage e do qual nos protege.

A ansiedade é uma das perturbações psicológicas mais prevalentes (15 a 20%) com tendência a agravar-se ao longo do tempo, caso não seja correctamente intervencionada. Quando a ansiedade é desajustada (não tem um estímulo ameaçador real ou há um aumento da sua intensidade e frequência), os seus sintomas físicos (inquietação motora, aceleração cardíaca, dificuldade respiratória, dores musculares, distúrbios digestivos, etc.), cognitivos (diminuição da memória e da atenção, perturbação do pensamento), psicológicos (medo de que algo mau está para acontecer, medo de perder o autocontrole, etc.) e insónias interferem no funcionamento dito normal da pessoa afastando-se da raiz do que a desencadeia, normalmente vulnerabilidades psicológicas recalcadas de forma defensiva. Estas poderão ser vivências interpessoais dolorosas, experiências traumáticas ou problemas na primeira infância que originam uma percepção de incapacidade que se activa face a situações semelhantes no presente através dos sintomas da ansiedade.

Quer seja generalizada (preocupação excessiva com a vida quotidiana como trabalho, relações afectivas, filhos acompanhadas de insónias e cansaço), social (desconforto desencadeado pelo exposição à avaliação social), ataques de pânico (período súbito de um desconforto muito intenso, normalmente acompanhado de tremores, sensação de desespero, náuseas, palpitações e dificuldade em respirar) ou fóbica (medo circunscrito a objectos ou situações concretas) a ansiedade provem de uma antecipação ameaçadora do futuro que impossibilita o sujeito de viver plenamente o presente, no aqui e no agora. A pessoa ansiosa passa a evitar os contextos ou objectos limitando o seu funcionamento em várias áreas (profissional, social ou familiar), o que, apesar do alívio imediato proporcionado, reforçam sentimentos de incapacidade e vulnerabilidade que diminuem a auto-estima.

A pessoa não escolhe ter uma perturbação da ansiedade. Esta surge como sintoma/alarme revelador de vulnerabilidades psicológicas que deverão ser trabalhadas no processo terapêutico. O Modelo Integrativo postula que as técnicas utilizadas no processo terapêutico sejam seleccionadas de forma responsiva, ou seja, de acordo com as características de cada paciente mas, seja através de dessensibilização sistemática, focagem, mindfulness ou outras técnicas, o objectivo é que o paciente reescreva a sua história pessoal, integrando as suas vulnerabilidades, anteriormente expressas nos seus sintomas. De facto, quando são correctamente intervencionados e resolvidos internamente, os sinais de alerta (ansiosos) esfumam-se no ar, deixando a pessoa fluir o presente.

Catarina Barra Vaz

Dialéctica entre proximidade e autonomia

“”Intimidade sem autonomia é dependência”

António Branco Vasco

Na Primavera o reino animal apaixona-se pois sai do seu casulo ficando mais disponível para os outros. Apaixonamo-nos e procuramos uma fusão com o outro como se o Eu deixasse de existir para passarmos exclusivamente a sermos Nós. Esta aproximação, além de biológica cumpre uma das nossas necessidades psicológicas vitais, a proximidade. Todos nós somos seres gregários e precisamos de nos sentir íntimos de outros e esta simbiose, na qual olhamos apenas um para o outro, ajuda-nos a sentirmo-nos compreendidos e aceites. Ficamos dependentes do olhar do outro, todo e qualquer comportamento seu tem repercussões gigantescas em nós. O outro passa a ser como o ar que respiramos, essencial à nossa existência.

Mas, como seres incomparáveis que somos, há sempre um momento em qualquer relação em que as nossas necessidades não são iguais à do outro e necessitamos de nos afirmar, expressando as nossas crenças, sentimentos ou desejos e, apesar do objectivo comum da relação, estes podem não ser concordantes como as do outro. Quando esta expressão de individuação não é aceite pelo outro ou pensamos que não a devemos manifestar surgem tensões, agressividade, afastamento ou frustração. Esta (proximidade e autonomia) é uma das dialécticas vitais à nossa existência mas também uma das mais difíceis das relações humanas.

De facto, temos de estar conscientes que este balanço entre proximidade e diferenciação é essencial ao nosso bem-estar psicológico (Modelo da Complementaridade Paradigmática, António Branco Vasco, 2001). Assim sendo, não devemos ter receio quando necessitamos de expressar a nossa individualidade ou quando o outro o faz.

Catarina Barra Vaz