A Vivência do(s) Prazer(es)

Prazeres

Num dia de calor, porque não um sumo de toranja com gelo?

«Disse (escreveu) toranja? baahh que horror! não quereria dizer laranja? ou cerveja geladinha?»

Pois, o prazer tem destas coisas… O que a uns apraz, não apraz a outros… e por isso é tão importante que cada um descubra o que lhe dá prazer e que dê a liberdade aos outros de o fazer também. Pode memorizar os seus momentos de prazer aumentando a sua sensação de bem-estar.

Há alturas em que nos deixamos levar inteiramente pela compulsão de aumentar os níveis de prazer, numa busca constante e ansiosa de mais e melhor, esquecendo que, o que algumas vezes se passa, é que estamos com uma incapacidade de tirar partido do momento presente, na maior parte das vezes por problemas passados, que nos projetam sempre e sempre em antecipações futuras e nos roubam o prazer de simplesmente estar no presente.

A ansiedade constante arruina a fruição do prazer. E, não conseguir desfrutar do prazer, dificulta também a vivência da dor duma forma adaptativa.

Seria quase impossível falar de prazer não abordando dois dos maiores prazeres: O prazer da mesa e o prazer da cama, ou, dito de outra forma, o prazer da comida e o prazer do sexo.

O prazer que os sabores de que mais gostamos nos dá, pode ser, dependendo do gosto de cada um, a nossa perdição. Quando sonhamos com enchidos e açordas, com ensopados e feijoadas, com gelados e doces conventuais e com tudo o mais que regala o olho e o palato, seja doce, salgado ou picante, mas muito calórico, demasiado gordo, etc etc, é natural que tenhamos alguma dificuldade em usufruir deste prazer sem consequências drásticas para a saúde, porém, isto jamais poderá significar que prazer e saúde são incompatíveis, ou que ter prazer é inimigo da saúde, ou, que para se ser saudável há que renunciar ao prazer. Nada poderia estar mais errado. Para se ter saúde tem de se evitar excessos, mas nunca o prazer.

O que podemos é autoregular o prazer. Como?

Precisamente saboreando melhor e mais lentamente degustando e não, comendo sofregamente. Também será importante ir encontrando prazer na descoberta de muitos e variados alimentos e bebidas saudáveis, tentando que a ingestão do que é tido como “fazendo mal em excesso”, seja feita com menos frequência e em menores quantidades, mas sempre sem culpa. A culpa impede o usufruto pleno do prazer! Quem tem prazer em correr, caminhar ou praticar desporto, consegue reequilibrar alguns excessos de mesa fazendo exercício.

No prazer do sexo, a culpa tem também tendência a estar presente, e, mais uma vez, onde há culpa não há possibilidade de usufruto pleno de prazer. A sexualidade bem vivida é das melhores e maiores fontes de prazer e bem-estar, e um excelente exercício físico, mas tal como noutros campos, a ansiedade e a incapacidade de viver o momento com a vulnerabilidade e intimidade necessárias, podem levar, ou ao não-prazer, ou à necessidade de procurar intensificar o prazer de modos menos saudáveis (por exemplo recorrendo ao uso de substâncias tóxicas duma forma sistemática, ou quase). Esta estratégia surge numa tentativa de abrilhantar sensações que se vão sentindo como mais pálidas e a escoar por entre os dedos, porque se está a procurar no sexo o que ele não pode dar só por si, falo de verdadeiro envolvimento afetivo com os outros e com a vida. É também verdade que nalguns casos o sexo é uma ótima ajuda para uma maior aproximação, motivação e gratificação, uma vez que gera prazer, no entanto, em situações em que a actividade sexual tenta substituir outras necessidades, pode criar frustração e um vazio ainda maior.

Mas, para além de comida e sexo, há muitíssimos outros prazeres. Temos tendência a esquecer o mais importante: O prazer das pequenas coisas, que não envolvem consumos, nem excessos.

Aquele prazer que temos em dar, em partilhar, em descobrir, em observar, em cheirar, em escutar, em acariciar, em conviver, em sorrir, em abraçar, em partir, em chegar, em relacionar, em planear, em realizar (construir, esculpir, cozinhar, dançar, cantar, tocar, pintar, bordar, aprender, escrever, etc, etc, etc), ou seja em toda uma série de atividades que estão, ou podem estar, presentes no nosso dia-a-dia, se não andarmos em correrias e tensões constantes, querendo chegar a uma qualquer meta, esquecendo tudo o que está no caminho, como se fossem apenas obstáculos e não partes, também necessárias (e por vezes até essenciais), da vida.

É desta forma que tantas vezes deixamos escapar momentos (e até entes queridos), sem os notar, sem permitir que os nossos olhos “retinem”, que os nossos sentidos absorvam, sem permitir que a memória os retenha e lhes dê significado, sem nos ligarmos afetivamente e realmente.

E, no entanto, é conseguindo saborear esses pequenos prazeres da vida, que podemos aumentar a nossa coleção de momentos de felicidade que nos podem proporcionar uma incrível sensação de bem-estar e nos ligam mais profundamente aos outros e à vida.

Cristina Marreiros da Cunha – Psicóloga e Psicoterapeuta

Reforma, um Novo Rumo

Reforma, um Novo Rumo

«O tempo pergunta ao tempo, quanto tempo o tempo tem. O tempo responde ao tempo que o tempo tem tanto tempo, quanto tempo o tempo tem»

Trava-línguas, ladainha popular

Com o aumento da esperança de vida, os anos após a reforma, podem ser o tempo com que sempre sonhou, o tempo em que tem tempo, o tempo em que se pode dedicar a alguma coisa que, até agora, nunca teve oportunidade, enfim, um tempo de seguir um novo rumo.

Contudo, este tempo pode também representar um tempo em que pensa que já não está a viver, está apenas à espera de morrer, pode ser um tempo armadilhado, em vez dum oásis que se concretiza. Cabe-nos tomar disso consciência e não cair nessa armadilha.

É necessário fazer planos para esta nova fase da vida. Até mesmo, o plano de não planear durante uns tempos. Esta é uma fase que se, por um lado, lhe pode trazer algumas dificuldades, sobretudo, à medida que a idade vai avançando, por outro lado também trás a sabedoria dos anos e uma nova forma de olhar a vida, cheia de experiência que só pode ser útil e permitirá proporcionar tranquilidade e pacificação.

No início da reforma há, geralmente, uma grande sensação de alívio. Acabaram-se correrias, horários, tarefas, quantas vezes aborrecidas e, finalmente, há tempo, o tal tempo com que sonhava… Mas, por vezes, após esta sensação de alívio, de leveza, de contentamento e também de descanso, pode surgir o desencanto, alguma tristeza, e uma sensação de vazio. Nessa altura precisa de se reorientar, precisa de traçar o seu novo caminho, podendo continuar a dar o seu contributo de novas formas. E, talvez precise de ajuda psicoterapeutica para ajudar a processar alguns pensamentos contraditórios e emoções que se apoderam de si sem saber donde vêm, porque cá estão, e o que lhes há-de fazer. Quantas vezes são sensações e pensamentos já seus conhecidos, mas que nunca tiveram grande oportunidade de ser verdadeiramente escutados, vividos, analisados. Quem sabe, talvez seja agora a oportunidade de conseguir olhar a sua vida como um todo coerente, o que lhe permitirá escolher melhor os passos a dar no tempo que ainda tem para viver. Certamente, não será uma solução agradável apenas sobreviver de uma forma revoltada amargurada ou resignada. A aceitação do envelhecimento e da morte como fim inevitável, é fundamental para se aceitar a vida e vivê-la por inteiro com menor sofrimento.

Após a reforma, sabemos o quanto é fundamental mantermo-nos activos. Exercício físico, cuidados com a alimentação, com a hidratação, talvez redobrados, e a ocupação da mente em actividades que nos façam sentir realizados são essenciais.

A qualidade de vida que conseguimos perceber na nossa própria vida é dos factores mais importantes para a satisfação com que vivemos os anos que temos pela frente. E, se nem tudo depende de nós, a verdade é que é da parte que depende que temos de cuidar para melhor decidir.

A forma como olhamos a reforma, o modo como olhamos a doença, as dificuldades que vão surgindo, as dores, as perdas que vamos contabilizando, amigos e familiares que desaparecem para sempre e que nos fazem pensar na nossa própria morte, tudo isto nos atinge e tem de ser vivido, mas pode e deve ser encarado como inerente à própria vida e como uma oportunidade de nos adaptarmos, percebendo o que pode ser ultrapassado ou recuperado e o que não pode. É possível aprender a conviver em harmonia com a realidade e encontrar formas satisfatórias de a viver. É possível e recomendável envolvermo-nos em projectos que nos façam sentir bem.

Ao longo das nossas vidas vamos tentando encontrar sentido em tudo o que fazemos e em tudo o que nos acontece. Chegados a uma idade avançada, esta ideia de relembrar o passado para melhor podermos viver, compreender e aceitar o presente torna-se, cada vez mais, uma forma de estarmos bem connosco e com os que nos rodeiam.

Recordar, passear, conversar, conviver, pensar, escrever, partilhar, usufruir, colaborar, ouvir música, repousar, fazer algo que nos dá prazer, que nos faz sentir bem e viver com tranquilidade, é o caminho para sentirmos que, se é certo que a morte é certa, também é certo que enquanto estamos vivos, podemos ir construindo o nosso bem-estar por cá.

Cristina Marreiros da Cunha – Psicóloga e Psicoterapeuta

Vá de férias sem stress!

Férias sem stress

Apesar de agosto já não ser o mês típico de férias de há uns anos atrás, para a semana muitos iniciam as suas férias tão desejadas.

As férias são essenciais para a saúde mental pois, na sua maioria, possibilitam, compensar “tempo perdido”, desligar do frenesim e do piloto automático do quotidiano, estando menos tempo em modo de fazer e mais em modo de ser e de estar, em contacto com o momento presente. É o tempo de relaxar sem culpa, das actividades prazerosas, de se estar com família, amigos, de visitar aquele novo país ou local, ou de regressar ao nosso lugar especial onde nos sentimos tão bem. Esta mudança de ritmo é muito importante para o equilíbrio emocional e físico, pois permite-nos recarregar baterias e voltarmos às nossas actividades habituais mais enérgicos, produtivos e até criativos
Contudo, como tudo na vida, a adaptação a este período tão desejado poderá não ser fácil, seja por termos expectativas irrealistas, seja por não termos o dinheiro para a concretização das “férias de sonho”, ou por não nos acharmos merecedores de momentos de paz e tranquilidade ou ainda por alterarmos bruscamente os nossos ritmos de sono, alimentares e de actividade física.

Deixamos por isso, algumas dicas para umas férias com menos stress:

• Antes de ir de férias resolva assuntos pendentes, para não darem lugar a futuras preocupações.
• Pense no que realmente é importante para si e planeie algo em conformidade, de forma a evitar a sensação de não ter aproveitado as férias.
• Se tiver filhos que já não sejam de colo, procure tirar alguns dias para si, sozinho e/ou em casal.
• Alimente-se de forma equilibrada, com refeições leves e frescas e não descure a actividade física. Pode não ter possibilidade de praticar o que está habituado, mas tem outras alternativas como caminhadas, passeios de bicicleta e variadas actividades náuticas.
• Evite uma calendarização excessiva das suas férias, permitindo-se desfrutar de momentos imprevistos e já agora, libertar a criança que tem em si.
• Conecte-se ao presente, ao aqui e agora. Está na praia? Sinta o calor do sol ou o refrescante banho de mar na sua pele, oiça o barulho das ondas e das gaivotas, cheire a maresia, delicie-se com a bola de Berlim, observe a paisagem luminosa e colorida.

Vá de férias sem stress e, quando regressar, não espere mais onze meses para continuar a cuidar de si.

Catarina Barra Vaz -Psicoterapeuta e Neuropsicóloga

Necessidades Psicológicas

Necessidades Psicológicas (5)

Todos nós temos as nossas necessidades próprias que variam consoante a fase da nossa vida e a importância que atribuímos a cada uma delas.

O modelo de necessidades mais conhecido globalmente é a pirâmide de Maslow que defende a existência de três grandes tipos de necessidades:

Necessidades básicas: Fisiológicas (alimento, repouso, vestuário, habitação) e Segurança (saúde, emprego, propriedade, família e recursos);

Necessidades Psicológicas: Amor/Relacionamento (amizade, família, intimidade sexual) e Estima (Auto-estima, auto-confiança, respeito dos outros)

Necessidades de Auto-realização: Realização pessoal (moralidade, solução de problemas, aceitação da realidade)

António Branco Vasco, professor e psicoterapeuta português, defende que as necessidades psicológicas são as condições que precisamos para o nosso bem-estar psicológico, para nos sentirmos bem connosco próprios e consequentemente com os outros e com o mundo.

Identifica 14 necessidades psicológicas vitais, cujo grau de satisfação é sinalizado pelas emoções e resulta de um processo contínuo de negociação e balanceamento das 7 polaridades dialéticas:

Prazer: capacidade de conseguir disfrutar de momentos que oferecem prazer, bem-estar e retirar sensações agradáveis dessas experiências.

Dor: capacidade de tolerar o sofrimento, de o encarar e aceitar como produtivo e inevitável perante circunstâncias dolorosas e entendê-lo como algo com que é possível crescer e aprender

Proximidade: Capacidade para estabelecer e manter relações íntimas

Diferenciação: Capacidade de se diferenciar e ser determinado nas suas escolhas que define quem é

Produtividade: Capacidade para alcançar e realizar acções importantes para o próprio

Lazer: Capacidade de relaxar e estar confortável com essa sensação de relaxamento

Controlo: Capacidade de o indivíduo influenciar o ambiente que o rodeia

Cooperação ou Cedência: Capacidade de delegar e abdicar de recompensas imediatas por outras melhores no futuro, na partilha do controlo pessoal

Exploração ou Actualização: Capacidade de explorar e de se expor ao que é novo

Tranquilidade: Capacidade de se aproveitar o que se tem no momento presente

Coerência do Self: Congruência entre o que pensa, sente e faz

Incoerência do Self: Capacidade de tolerar conflitos e incongruências ocasionais

 

Auto-Estima: Capacidade de se sentir satisfeito consigo próprio

Auto-Crítica: Capacidade de identificar, tolerar e aprender a partir das insatisfações pessoais

Os estudos feitos com base neste modelo apontam a regulação das necessidades de Tranquilidade, Proximidade, Auto-crítica e Auto-estima como melhor predictor de bem-estar.

De forma a sentir-me melhor consigo próprio, proponho que reflita sobre o seu grau de satisfação actual em cada uma das 14 necessidades psicológicas e procure o que lhe faz falta em cada uma delas. Deixo-lhe aqui algumas sugestões, necessidade a necessidade:

Prazer: Faça o que lhe dá prazer e esteja atento às sensações corporais;

Dor: Relativize a dor, tomando consciência de que ela não dura para sempre e procure retirar conhecimento dessa experiência;

Proximidade: Procure estar com as pessoas de quem gosta e conhecer pessoas novas;

Diferenciação: Mesmo sendo diferente das dos outros, afirme as suas escolhas, emoções ou ideias, de forma assertiva, tendo a noção que tem o direito à sua individualidade;

Produtividade: Planeie e execute actividades importantes para si e parabenize-se quando tenta alcançar os seus objectivos;

Lazer: mesmo que tenha coisas por fazer tire momentos para descansar e relaxar;

Controlo: Tome consciência das coisas em que tem controlo na sua vida ou que dependem de si

Cooperação/Cedência: Observe as coisas que não dependem somente de si, delegue/peça ajuda em tarefas que o sobrecarreguem;

Actualização/Exploração: Faça coisas novas e atente ao que aprendeu de novo a cada dia;

Tranquilidade: Observe o que tem de bom no momento presente;

Coerência do Self: Esteja atento ao que pensa, sente e faz e perceba se existe coerência nestes momentos;

Incoerência do Self: Atente aos seus conflitos interiores, se faz coisas contra os seus valores ou emoções e reflicta sobre as suas possíveis causas;

Auto-estima: Registe o que gosta em si

Auto-crítica: Observe as coisas a melhorar em si.

Catarina Barra Vaz – Psicoterapeuta e Neuropsicóloga

E Quando a Idade Avança?

O envelhecimento é um processo normal, universal, gradual e irreversível que envolve transformações ao nível biológico, psicológico e social.

Sabemos que há factores de predisposição genética que podem conduzir a uma demência mais ou menos precoce. Sabemos também que o declínio e a morte são inevitáveis, mas lutar e resistir é possível, bem como aprender a aceitar as perdas inerentes ao processo de envelhecimento.

Em determinadas situações, e em idades mais avançadas, a acumulação de limitações físicas e cognitivas diminui substancialmente a eficácia de estratégias compensatórias. Contudo, as intervenções dirigidas a, pelo menos, uma limitação, ou tendo em vista o impedimento da acumulação de fatores de risco, podem reduzir a velocidade do processo e o risco de institucionalização. De facto, parece haver uma convergência entre os investigadores, no sentido de procurar manter as pessoas idosas o mais tempo possível no seu ambiente preferencial, apoiadas por equipas multidisciplinares, com o intuito de lhes serem garantidas condições de autonomia. Há, no entanto, situações em que tal se torna impossível. Quando surge, então, um estado dedependência, caracterizado pela impossibilidade da pessoa manter a sua funcionalidade sem ajuda, e não havendo alternativas, poderá tornar-se necessária a institucionalização. As Instituições têm o dever de considerar o utente como prioridade e centro da mudança institucional, devendo ser a própria instituição a adaptar-se às necessidades dos seus clientes, numa perspetiva de preservar e recuperar capacidades e manter o bem-estar físico e psicológico durante o maior tempo possível, (nomeadamente através de programas específicos) respeitando as necessidades físicas e afectivas dos utentes.

Convém recordar que o ser humano é extremamente adaptável e que se essa adaptabilidade não lhe for solicitada, atrofia.

Assim, o melhor exercício é o da própria actividade cerebral, numa visão de que “a ampla utilização garante ampla funcionalidade”. Isto não significa que os meros exercícios de estimulação cognitiva, à semelhança dos exercícios físicos localizados, conduzam a essa ampla funcionalidade, uma vez que exercícios específicos para áreas isoladas, dificilmente podem ser transferidos para outras, pelo que será a diversidade da estimulação que ajudará a plasticidade neuronal.

“A função faz o órgão.” “Usa-se ou perde-se.”

Numa fase precoce da velhice, e em situações em que esta ainda não se faz acompanhar de dependência e em que a escolha autónoma é possível, o acompanhamento psicológico é de grande mais-valia. Se houver dificuldade em pensar em termos de uma Psicoterapia que conduza a grandes mudanças estruturais e comportamentais, pode-se com certeza pensar num processo facilitador da atribuição de novos significados e que conduza a novos esquemas e a processos de assimilação e acomodação mais adaptativos, promovendo assim, novas representações internas que ajudam a uma melhor aceitação da realidade presente e, que ao mesmo tempo, favorecem a emergência de novas redes de conexões neuronais. Todos estes processos podem desempenhar um papel importante na melhoria e/ou manutenção de bem-estar, através de uma maior pacificação consigo e com os outros. Certo é, que a investigação tem mostrado que se envelhece e morre melhor quando se vive melhor.

Quando a idade avança, é possível uma intervenção psicoterapêutica que possibilite novas interpretações e simbolizações sobre as inúmeras narrativas e vivências que se foram acumulando ao longo da vida, e que possibilite ainda, revisitar afectos, activar memórias gratificantes e experienciar emoções que ajudem a enriquecer e reflorescer o momento presente. É pois, possível e desejável investir num processo que vale a pena.

Cristina Marreiros da Cunha – Psicóloga e Psicoterapeuta

A arte de CONTEMPLAR

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Os “nadas” do quotidiano podem ser o “tudo” no equilíbrio e no bem-estar.

Sintonizarmo-nos com a beleza e riqueza de pequenos momentos da vida é uma habilidade francamente desejável para a nossa harmonia interior. Aquela em que conseguimos focar-nos No Que Está a Acontecer, No Como está a Acontecer e No Como Nos Faz Sentir o Que Está a Acontecer. Falo dos momentos em que utilizamos mais do que um sentido (porque temos 5 disponíveis e só nos focamos apenas em 1 em cada momento) e os convergimos numa experiência única e sensorialmente agradável.

Momentos tão banais como aquele em que saboreamos uma comida/bebida de que gostamos e conseguimos captar o seu cheiro, paladar e textura desde que a olhamos até ao momento em que a colocamos na boca e conseguimos acompanhar, interiormente, a jornada de prazer que vamos sentindo, ao mesmo tempo que percebemos que nos faz ficar mais entusiasmados, mais calmos ou que memórias que vão sendo despertadas ao longo daquela jornada. Descrito parece que demora muito tempo mas na realidade é breve… muito breve, e por isso é tão importante conseguir estarmos ATENTOS e PARAR para nos FOCARMOS na oportunidade destes momentos e os agarrarmos ficando depois disponíveis nas memórias de PRAZER do nosso corpo.

Sejam situações mais ou menos intencionais; como olhar para a imensidão do mar e deixar o rosto e o peito serem aquecidos pelos leves raios de sol de Inverno enquanto cheiramos a brisa marítima OU como dar-se conta de que uma música a tocar na rádio, enquanto está parado(a) no trânsito, lhe desperta saudosa alegria que lhe enche o peito e lhe dá uma misteriosa força para iniciar o seu dia de trabalho; parecem estar presentes sementes comuns ao florescimento do que é vivo e prazeroso na vida.

Talvez estas oportunidades de CONTEMPLAÇÃO, em que puxamos algo exterior com todos os nossos sentidos disponíveis e o transformamos numa experiência ímpar, em que o produto final é resumido a BEM-ESTAR, ajudem a criar VITALIDADE interior, aquela que vai e vem directa ao CENTRO de quem nós somos e que nos faz querer ir mais além na vida.

Os bebés são um grande exemplo nesta arte de transformar os “nadas” em “tudos” quando apenas olham para nós com todos os sentidos, como se nos quisessem puxar para dentro deles com toda a sua força ou como se nos enfeitiçassem com a simplicidade com que ficam regalados… é que eles olham o mundo com todo o equipamento sensorial de que dispõem.

A arte da contemplação é um recurso de saúde mental e espiritual, precocemente desenvolvido pelos seres humanos mas tão facilmente esquecido à medida que vamos crescendo em tamanho.

Pratiquemos a CONTEMPLAÇÃO: CONTEMPLE o mundo e CONTEMPLE-SE a si!

Rita dos Santos Duarte – Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta