E Quando a Idade Avança?

O envelhecimento é um processo normal, universal, gradual e irreversível que envolve transformações ao nível biológico, psicológico e social.

Sabemos que há factores de predisposição genética que podem conduzir a uma demência mais ou menos precoce. Sabemos também que o declínio e a morte são inevitáveis, mas lutar e resistir é possível, bem como aprender a aceitar as perdas inerentes ao processo de envelhecimento.

Em determinadas situações, e em idades mais avançadas, a acumulação de limitações físicas e cognitivas diminui substancialmente a eficácia de estratégias compensatórias. Contudo, as intervenções dirigidas a, pelo menos, uma limitação, ou tendo em vista o impedimento da acumulação de fatores de risco, podem reduzir a velocidade do processo e o risco de institucionalização. De facto, parece haver uma convergência entre os investigadores, no sentido de procurar manter as pessoas idosas o mais tempo possível no seu ambiente preferencial, apoiadas por equipas multidisciplinares, com o intuito de lhes serem garantidas condições de autonomia. Há, no entanto, situações em que tal se torna impossível. Quando surge, então, um estado dedependência, caracterizado pela impossibilidade da pessoa manter a sua funcionalidade sem ajuda, e não havendo alternativas, poderá tornar-se necessária a institucionalização. As Instituições têm o dever de considerar o utente como prioridade e centro da mudança institucional, devendo ser a própria instituição a adaptar-se às necessidades dos seus clientes, numa perspetiva de preservar e recuperar capacidades e manter o bem-estar físico e psicológico durante o maior tempo possível, (nomeadamente através de programas específicos) respeitando as necessidades físicas e afectivas dos utentes.

Convém recordar que o ser humano é extremamente adaptável e que se essa adaptabilidade não lhe for solicitada, atrofia.

Assim, o melhor exercício é o da própria actividade cerebral, numa visão de que “a ampla utilização garante ampla funcionalidade”. Isto não significa que os meros exercícios de estimulação cognitiva, à semelhança dos exercícios físicos localizados, conduzam a essa ampla funcionalidade, uma vez que exercícios específicos para áreas isoladas, dificilmente podem ser transferidos para outras, pelo que será a diversidade da estimulação que ajudará a plasticidade neuronal.

“A função faz o órgão.” “Usa-se ou perde-se.”

Numa fase precoce da velhice, e em situações em que esta ainda não se faz acompanhar de dependência e em que a escolha autónoma é possível, o acompanhamento psicológico é de grande mais-valia. Se houver dificuldade em pensar em termos de uma Psicoterapia que conduza a grandes mudanças estruturais e comportamentais, pode-se com certeza pensar num processo facilitador da atribuição de novos significados e que conduza a novos esquemas e a processos de assimilação e acomodação mais adaptativos, promovendo assim, novas representações internas que ajudam a uma melhor aceitação da realidade presente e, que ao mesmo tempo, favorecem a emergência de novas redes de conexões neuronais. Todos estes processos podem desempenhar um papel importante na melhoria e/ou manutenção de bem-estar, através de uma maior pacificação consigo e com os outros. Certo é, que a investigação tem mostrado que se envelhece e morre melhor quando se vive melhor.

Quando a idade avança, é possível uma intervenção psicoterapêutica que possibilite novas interpretações e simbolizações sobre as inúmeras narrativas e vivências que se foram acumulando ao longo da vida, e que possibilite ainda, revisitar afectos, activar memórias gratificantes e experienciar emoções que ajudem a enriquecer e reflorescer o momento presente. É pois, possível e desejável investir num processo que vale a pena.

Cristina Marreiros da Cunha – Psicóloga e Psicoterapeuta