Estamos permanentemente ligados nas redes sociais, partilhando estados, fotografias, fotos, normalmente de momentos agradáveis com a sensação de um contacto imediato com os outros. As mortes recentes de Robin Williams, Rodrigo Menezes, entre outros e milhares de partilhas e comentários associados puseram-me a pensar na temática da morte nas redes sociais.
De facto, é natural que as redes sociais sejam usadas em momentos de perda, pois a sua imediaticidade e “omnipresença” permitem expressar a dor e receber mensagens de apoio num momento delicado, sentindo a compaixão de quem nos quer bem. Devido à evolução médica, vivemos cada vez menos em presença da morte. Já não se morre tanto em casa como antigamente, a esperança média de vida é maior e as famílias vivem os seus lutos cada vez mais tarde, o que, apesar de bom, dificulta o processo de luto. Os próprios rituais são cada vez mais rápidos e quase que só se tem direito a chorar, quando ninguém vê, nem escuta. É-nos cada vez mais difícil estar em contacto com a morte e as redes sociais dão-nos uma distância, aparentemente segura e indolor, desse contacto. Afastamo-nos cada vez mais da tristeza. Paradoxalmente, nas mesmas redes, tudo o que é publicado fica registado para sempre, não podendo ser apagado.
Segundo Worden (1991) o processo de luto, que tem um duração variável consoante o enlutado e o relacionamento deste com o falecido até à fase final da aceitação, envolve as seguintes tarefas:
- Aceitar a realidade da perda;
- Ultrapassar a dor da perda;
- Ajustar-se a um meio em que a pessoa morta não está presente;
- Retirar a energia emocional da pessoa falecida e reinvesti-la em novas relações.
Agora imagine o seguinte cenário. Está emigrado num qualquer país asiático, com uma diferença horária de 8 horas de Portugal. O seu irmão morre num acidente de viação de madrugada e os seus pais, em choque, acham melhor, só lhe comunicarem no dia seguinte. Você acorda de manhã, pega no seu telemóvel e vê uma notificação de um amigo seu a lamentar a morte do seu irmão, que você desconhecia. Dá que pensar, não dá?
Catarina Barra Vaz – Psicoterapeuta e Neuropsicóloga
Eu descobri que o meu avô tinha falecido porque uma amiga minha me mandou mensagem a dar os sentimentos. Como tinha exame nesse dia na faculdade os meus pais queriam dizer depois, para eu me focar.
Nem sempre é fácil aceitar a perda, mas é a lei da vida, temos de aprender a viver com isso.
Gostei imenso do texto.
Obrigada pelo seu testemunho.
Os seus pais, ao quererem protegê-la, talvez não imaginassem o imediatismo dos dias de hoje.
Espero que já tenha aceite a dor da sua perda.