Ainda não é desta que vou ceder !

Não existe forma de “dourar a pílula”. Permanecer em isolamento com a família e/ou o companheiro por perto é fonte de stress e desgaste.

Por outro lado, a gestão do medo, da ansiedade associados à incerteza da situação, pode levar-nos a ficar perturbados e com dificuldade de regressar a um estado de equilíbrio.

Se este fôr o caso, tente pôr em prática técnicas de relaxamento e exercício físico como forma de baixar a intensidade da ativação das emoções.

Existe um exercício de relaxamento, especialmente eficaz, conhecido por “4 elementos – Terra, Ar, Água e Fogo” de Elan Shapiro, que ajuda, de forma rápida, a lidar com situações de vida negativas:

Os ativadores de stress internos e externos tem efeito cumulativo ao longo do dia e lidamos melhor com o stress quando ficamos dentro da “janela de tolerância” de ativação.

Um antídoto para ativadores de stress é a monitorização frequente e aleatória do nível de stress com ações simples de redução do mesmo para manter os seus níveis dentro da janela de tolerância.

Assim, use uma pulseira no pulso (de borracha, ou de cordel) e sempre que notar a presença, faça uma rápida leitura do nível atual de stress (por exemplo, numa escala de 0 a 10, sendo 0 a ausência de stress e o 10 o nível máximo de stress) e realize 3 ou 4 breves exercícios de relaxamento/autocontrole (os 4 elementos) e então avalie novamente o nível de stress (0 a 10).

O objetivo, modesto, é reduzir o nível de stress em 1 ou 2 pontos de cada vez e fazer isso pelo menos 10 vezes ao dia em momento aleatórios, a partir de diferentes níveis de stress inicial.

Ao evitar que as suas respostas de stress se acumulem, torna-se mais hábil a permanecer dentro da sua janela de tolerância.

 

  • Terra: ponha os pés no chão e tome consciência do local onde está. Sinta a textura do sofá onde está sentado. Seguidamente, repare em 3 objetos à sua volta (ex: “uma cadeira, uma mesa, um telemóvel”). O objetivo é sair da espiral de pensamentos perturbadores e intrusivos e trazer a sua atenção para o “aqui e agora”;

 

  • Ar: Vamos usar a “respiração quadrada”: respire fundo, pausadamente (conte 1-2-3-4 enquanto inspira; 1-2-3-4 enquanto retem o ar; 1-2-3-4 expire; 1-2-3-4 suspenda a respiração (antes de voltar a inspirar, reiniciando o ciclo), usando o diafragma;

 

  • Água: beba água ou salive. Quando está ansioso, stressado, a sua boca fica seca, porque parte da resposta de emergência ao stress produzida pelo Sistema Nervoso Simpático, é desativar o sistema digestivo. Quando começa a produzir saliva, ativa novamente o sistema digestivo, pondo em ação o Sistema Nervoso Parassimpático, promovendo a resposta de relaxamento. É por isso que se oferece água, chá ou rebuçados às pessoas após uma experiência difícil. Quando há produção de saliva, a sua mente é capaz de controlar melhor os pensamentos e o corpo.

 

  • Fogo: Vamos “aquecer” a imaginação – procure uma imagem de um local agradável, real ou imaginado, inspirador de paz, confiança, segurança, relaxamento. Descreva-o em voz alta utilizando para tal os 5 sentidos: o que ouve? O que vê? O que cheira? O que sente? A que sabe? Simultaneamente vá respirando de forma profunda e pausada.

 

O exercício físico deverá ser adaptado às condições do espaço de cada um, e, de momento existem vários exemplos a circular na internet. Deixo-vos um, que estando em inglês, é fácil de fazer seguindo as instruções visuais.

https://youtu.be/PWCWP0yZld0

Este exercício, cross crawl, oferece uma maneira eficaz de reiniciar o sistema nervoso e reintegrar a mente e o corpo. Pode usá-lo regularmente para descarregar e recarregar a sua atenção e energia. Gera uma ótima oportunidade para distrair do foco em excesso e também funciona colocando o corpo e a mente alinhados. Além de um desactivador do stress ou como um aquecimento para se mexer melhor, o exercício traz benefícios sócio-emocionais significativos:

·     Maior autoconsciência

·     Melhor discernimento do contexto

·     Mais clareza de pensamento

·     Melhor controle de impulsos

·     Melhorias na coordenação física geral

Estas são algumas ideias para ajudar a lidar com estes momentos diferentes e ansiogénicos que vivemos. Contudo são estratégias que podemos pôr em prática sempre que sentirmos necessidade de encontrar algum relaxamento e paz interior.

Fique bem, mantenha-se seguro(a)!

Catarina Mexia – Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

 

 

Os dias da Pandemia – I

“Temos de começar a encontrarmo-nos mais vezes.”

 

 

Lembro-me da última vez a que fui a um restaurante com a minha família por essa altura.

Depois disso, duma forma insidiosa, caiu sobre a cidade um manto de silêncio.

As ruas, vazias. As lojas, fechadas. O planeta parou e tudo parou com ele.

Tenho a sorte de sair de casa e conduzir meia dúzia de quilómetros de casa para o consultório onde trabalho e é raro ver outro carro ou ver alguém a andar na rua.

Pressente-se o medo. Como aquele perfume que vem da terra depois duma chuvada copiosa. Ele penetra pelas frestas das portas e janelas, trespassa as telas dos televisores e vem instalar-se sub-repticiamente nas nossas mentes.

Como há uma centena de anos atrás, na gripe espanhola, o ar azedou, anda envenenado e é um veneno invisível, incolor e inodoro. O pior é que pode matar.

Usamos luvas e máscaras e deixamos os sapatos à porta de casa.

Mesmo assim, o veneno pode passar…

Alguns de nós deixámos de visitar os nossos avós ou amigos queridos.

É este ar envenenado que nos veio ensinar que afinal nada do que temos é garantido. Que a proximidade daqueles que amamos é muito mais valiosa do que antes supúnhamos. Que afinal, não é impossível parar com a destruição do planeta.

Multiplicam-se as mensagens de WhatsApp, muitas delas inegavelmente inspiradoras, de que esta experiência humana veio ensinar-nos que tudo é possível para uma humanidade que julgava este planeta como perdido.

Até aqui todos de acordo, mas fica por fazer a pergunta mais importante.

Nós – ou a maioria de nós – que vivia a vida a correr, sair de casa por vezes sem pequeno-almoço, sempre em stress com horários para tudo, sem tempo para pensar nem sentir, chegar à noite, cair no sofá a espairecer fazendo zapping com o comando da televisão sem vontade nem ânimo para ver fosse o que fosse e cair na cama porque amanhã é outro destes dias, eles são todos iguais e só me apetece é morrer, será que há saída para isto? – Nós, ou a maioria de nós, mais do que percebermos que o planeta tem salvação e que este vírus pode afinal ser um mensageiro de esperança (mas também de luto) – nós, a maioria de nós – fica a pergunta: o que podemos mudar interiormente nesta oportunidade que a pandemia nos deu? O que trouxe de bom esta pausa na nossa cega corrida do dia-a-dia? Como estamos a aproveitar a disponibilidade que esta circunstância nos trouxe?

Por vezes paro, desligo a televisão ou o computador ou paro de fazer seja o que for com que esteja ocupado por 15 minutos, e respiro fundo – não, não é preciso meditar formalmente, não preciso duma almofada, nem de fechar os olhos para me concentrar – paro, tento respirar só um pouco mais devagar, e tento auscultar o meu corpo – “Como será que tu estás? Como estás a reagir a isto tudo? Será que andas mais tenso ou mais relaxado?” – tento auscultar o meu coração – “Esta ansiedade que eu sinto é provavelmente natural, estas saudades também, mas esta angústia que vem de vez em quando… deixa-me senti-la. Deixa-me parar de fugir dela. Deixa-me dizer-lhe que estou aqui para lhe dar as mãos e tentar compreendê-la” – e tento auscultar os meus pensamentos – “Que raio é esta imagem que me veio à mente? Porque é que me ocorreu esta recordação? O que é que eu tenho vindo a dizer a mim próprio? E o que digo para mim e sobre mim faz-me bem ou derrota-me e faz-me mal?”

Finalmente eu posso criar momentos onde, mais do que tudo, eu me possa encontrar comigo próprio, livre de julgamentos e autocríticas, apenas um abraço que não negaríamos a um amigo mais próximo, sem lamechices, um abraço honesto e dizer-lhe: “- Ando há tanto tempo esquecido de ti. Temos de começar a encontrarmo-nos mais vezes.”

Aquele silêncio pode vir depois deste silêncio, onde aprendemos a estar mais acompanhados, onde aprendemos a nos reencontrar, a respirar e a sermos um pouco mais generosos connosco próprios.

João Parente – Médico Psiquiatra e Psicoterapeuta

Amar-te-ei até me matares…

Firmino

Firmino entra no restaurante e diz um “Bom dia!” na sua voz afável e, naquele momento e ao mesmo tempo, seca e distante, olhando de relance, quase de soslaio, para os seus colegas:

“- Estes cabrões estavam a falar nas minhas costas…” – pensa ele enquanto entra para a divisão onde os empregados trocam de roupa e vestem a farda profissional.

“- É sempre a mesma merda, sempre a fazerem-me a folha, mas eu vou falar-lhes a bem, vou adoçar-lhes a boquinha para eles não perceberem que eu já os topei!”

Quando vai a sair, já vestido, volta-se para trás e revê-se no espelho comprido e alto que o patrão comprou:

“- Eu tenho que estar bem.” – pensa, com vaidade – “E lembra-te sempre: O teu patrão é o cliente! Sempre! Não o dono do restaurante…” – e corrige – “…dono do restaurante que, a bem dizer, é como se fosse um pai para mim…”

Frequentemente os colegas queixam-se ao patrão:

“- Ele é um anormal. Anda sempre desconfiado! Não lhe podemos dizer nada! O que quer que a gente diga, ele pega e leva para outro sentido! O homem tem pancada!”

“- Pancada têm vocês! Ele não faz mal a uma mosca! Não prestem atenção ao que ele diz! Vejam como ele trata os clientes! E aprendam com ele, isso sim! Cada um de nós tem a sua mania! A mania dele é andar desconfiado. Deixem-no em paz e não liguem. Vocês vêm aqui é para trabalhar e ele também. Fora as desconfianças ele é uma jóia de moço!”

Firmino, de alguma forma, nunca desconfiava dum cliente.

Tinha o dom de os tratar de tal forma que eles se sentiam especiais, únicos, sorria sempre e mantinha-se à distância para mostrar que estava atento e disponível mas que não queria incomodar:

“Os clientes vêm cá para comer e não para te aturar… Não é como os brochistas dos teus colegas que andam para aí a engraxar… É deixá-los sossegados… E só perguntas se está tudo bem ou se a comida está boa uma vez e quinze minutos depois de eles começarem a comer. E acabou! Quem pergunta duas vezes é porque é surdo ou burro, ou então graxista. Os clientes não gostam de graxistas!” – pensa para si próprio.

Firmino tinha orgulho na forma como servia e os clientes adoravam-no.

Homem de poucas falas, tinha sempre um sorriso para os clientes, uma palavra amável ou uma brincadeira para os animar.

“- Quero uma Coca-cola zero, por favor.”

“- Sem álcool portanto!” – dizia sorrindo para o cliente.

Desconfiava dos colegas, da própria mulher, às vezes do patrão, mas nunca dos dois filhos que tinha e muito menos dos clientes.

Ninguém conseguia perceber a lógica desta selecção – nem ele mesmo.

Na primeira vez que veio à consulta disse-me que a esposa fazia tudo para o matar sem que ninguém desse conta. Segundo ele, a esposa estava constantemente a tentar envenená-lo.

E disse-me:

“- Ela agora mandou pintar as portas da rua de verde! Aquilo é tinta que fede até dizer chega! E eu já percebi que aquela tinta é venenosa e que lá está ela a querer envenenar-me! Como o nosso quarto é perto da porta da rua, eu fui dormir para um quarto nos fundos e disse-lhe: Fica aí tu a dormir que a mim não me envenenas tu!”.

Esquecia-se Firmino da incongruência da esposa não querer dormir também noutro quarto, já que assim o dito veneno a iria matar ela.

No final duma longa entrevista, perguntei-lhe:

“- Sem ser este problema que o traz cá, você tem outras doenças?”

“- Oh, doutor! O caruncho já me começou a entrar nos ossos! Faço um medicamento para a tensão arterial e outro para o colesterol.”

“- E quais são?” – perguntei.

“- Ah! Isso não sei! Deixe-me só telefonar à minha mulher que ela é que sabe disso tudo!”

Para este efeito, de alguma forma, a mulher já não o quereria envenenar com os comprimidos para a hipertensão arterial ou para a hipercolesterolémia.

Bem ou mal, todos os adoravam: Filhos, clientes, patrão…

A esposa e os colegas estavam cansados de o aturar, mas reconheciam que, no fundo, “lá mesmo no fundinho” – como dizia um deles – o Firmino não era mau rapaz.

Com a esposa era muito mais cansativo – há mais de vinte anos que falavam quase por monossílabos – porque “Desculpe lá, doutor! Vá para lá você aturá-lo que até a pasta dentífrica ele esconde de mim!”.

Mas quando um deles ficava doente esfumavam-se “os filmes e as desconfianças” (sic) e “ia dormir para junto da cama do hospital se fosse preciso! Ora isto entende-se, senhor doutor? Num minuto eu ando a querer envenená-lo, no outro anda a chatear os médicos e os enfermeiros se eu andava a ser bem tratada no hospital! Ora isto faz algum sentido?”

Eram estas incongruências que traziam à luz que o Firmino tinha lá um cantinho muito escondido no qual ele sabia que as desconfianças e os filmes eram tudo “invenções da minha cabeça, será mesmo, senhor doutor?”.

Mas era um cantinho muito pequeno e muito escondido e suspeito que nem mesmo Firmino tinha consciência daquele cantinho.

Era por esse cantinho que brotava o amor.

O amor que tinha pela sua família e sobretudo pela esposa – algo que ele não compreendia nunca ter desaparecido – “Ora se ela me quer matar, como é que isto é possível, senhor doutor?”

“- Mas, Firmino… Você já diz isso há 20 anos e nunca nada aconteceu, certo?”

“- Olhe que não é assim, que eu uma vez tive um acesso de tosse que tive que ir para as urgências!”

“- Mas não morreu?” – insisti.

“- Claro que não, senão não estaria aqui a falar consigo,  ora !”

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

E lá ia Firmino.

A iluminar as mesas dos clientes, como a maior vedeta do restaurante.

A amar como podia.

“- Doutor, antes da doença ele era um Príncipe!”

“- E agora não é porquê?” – devolvi à esposa.

Ela fez uma pausa de alguns segundos antes de me responder:

“- Continua a ser um príncipe. Mas não deixa de ser um chato!”

 

João Parente – Médico Psiquiatra e Psicoterapeuta

O colo de Deus…

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L., 62 anos, administrador executivo numa empresa de equipamentos electrónicos, cresceu numa família onde foi iniciado na magia dos gestos de amor.

“Sabe?

Ontem, uma vez mais, adormeci a pensar na minha mãe que Deus tem.

Depois dela conheci muitas mulheres, mas nenhuma como ela.

Ela acordava-me de manhã como um sopro muito suave na testa ou a acarinhar o meu cabelo muito ao de leve com um dedo apenas…

Eu nunca acordava em sobressalto. Ela tinha este talento de me fazer acordar tão devagarinho que eu nem sentia a diferença entre estar a dormir e acordar.

Só ela, até hoje, conseguia acordar-me assim…

Quando hoje o dia me corre mal, quando eu vou angustiado com alguma coisa para a cama eu peço a Deus que me acolha no seu regaço. Ou ao pólo feminino de Deus. Ou a Nossa Senhora. Eu peço aquele colo que a minha mãe me dava e mais ninguém sabia ou soube como me dar.

É um colo protector, é um colo onde nada me pode acontecer e, mais que uma sensação de segurança, o que é mais vibrante e intenso é a sensação de estar envolto neste estranho Amor de mãe.

Muito raramente lá acontece eu adormecer e cair no colo de Deus…

E eu acho que aprendi com a minha mãe.

Quando a minha filha tinha 2 anos ela começou a acordar muitas vezes de noite e ficava em pânico por não nos ver ao pé dela.

Acredita que por vezes eu era tão rápido que ela nem tinha tempo de começar a chorar?

E não é preciso dizer nada realmente… Eu passava-lhe a mão pelo cabelo e sussurrava um “Shhhhh” em suspiro e dizia-lhe: “Está tudo bem, querida. Não se passa nada.” e ela caía com a cara na almofada e adormecia ainda antes de se conseguir aninhar-se na cama dela…”

Fiquei a pensar como é que uma memória tão antiga perdura tão tarde na vida de alguém, como é que reaviva os olhos deste homem uma luz tão intensa de conforto e calor, e a resposta que se me oferece é que a responsabilidade é do Amor.

Um Amor maternal.

Quem sabe um Amor feminino, que se prolongou na Alma deste homem.

Um dia será a sua filha a lembrar a alguém a Magia do seu pai.

E a uma grande parte (para não dizer a maior parte) das coisas inexplicáveis da Experiência Humana têm a ver com o Amor, enquanto experiência vivencial que encerra em Si todas as línguas mudas e faladas e atinge as Almas das pessoas nos seus recônditos mais silenciosos deixando lá uma marca eterna e indelével.

 

João Parente – Médico Psiquiatra e Psicoterapeuta

Somos como somos ou podemos mudar?

Somos como somos E podemos mudar.

Somos? ou vamos Sendo?

Somos E vamos Sendo.

Somos um conjunto de aspectos mais ou menos estruturais, comuns a uma espécie, a uma génese, a uma herança genética e cultural/ambiental.

E

Vamos Sendo um conjunto de processos dinâmicos, dialeticos de interacções constantes com o meio em que estamos inseridos (afectivo/relacional, social, cultural). que interaje constantemente com os traços próprios de quem somos e de quem nos vamos construindo.

Somos uma obra única e em constante mutação, que, à medida que se vai desenvolvendo vai acrescentando novos materiais, uns por necessidade, outros porque se nos colam… E, outras vezes vai prescindindo de materiais iniciais, uns porque já não fazem falta, outros por que nos foram sonegados. Há assim potencializações e despotencializações constantes, que afectam o nosso processo de auto-construção e dos quais nem sempre estamos conscientes.

Independentemente do que somos e trazemos connosco à nascença, tudo o que vamos sendo depende da nossa interacção com todos e tudo o que nos rodeia. Essas tensões e distensões provocadas pelas diversas forças que operam no processo de auto-construção nem sempre são claras ou lógicas, e muitas vezaes são contraditórias e causam sofrimento. São fruto de inúmeros e complexos processos Psicológicos.

A escuta das nossas emoções primárias (surpresa, medo, zanga, tristeza, alegria, nojo) e a atenção ao diálogo que estabelecemos com elas (ou que outros estabeleceram com elas) e ao que conduziram secundariamente, são essenciais para nos podemos compreender e construir de forma equilibrada e satisfatória.

A desregulação emocional não está na desordem/desequilíbrio ocasional, que faz parte do processo dinâmico dialético que é a vida, e que ocasionalmente, nos é tão necessária para uma reordenação e reorganização interna, mas apenas em traços extremos, inadaptativos, inflexíveis e/ou causando sofrimento contínuo, que impedem o reencontro com o equilíbrio.

O que fomos absorvendo, o que se nos foi “colando” e o que fomos prescindindo, sem querermos, sem nos apercebermos, ou, porque nos foi útil/inútil em determinada altura, deve ir sendo filtrado ou recuperado, para podermos tomar posse de quem vamos sendo, de uma forma mais consciente e livre, pois afinal, somos o que somos, em constante mutação e somos possuidores de um enorme potencial de mudança e adaptação.

A responsabilidade de sermos livres e nos sentirmos realizados é nossa. Contudo, esta tarefa nem sempre é fácil e é natural que requeira ajuda profissional num momento ou noutro das nossas vidas. Ir esculpindo o nosso Ser é obra nossa.

Cristina Marreiros da Cunha – Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

É sempre tempo de construir o caminho

caminhos

Tantas vezes fazemos planos para o novo ano, mas na realidade todos os dias são oportunidades de construirmos o nosso caminho, seja prosseguindo o que iniciámos, seja interrompendo, seja mudando o curso, ou simplesmente alterando a velocidade e/ou a direcção.

Fazer caminhadas, prática aconselhável para a nossa saúde e ao alcance de todos, é o que acontece quando numa determinada altura decidimos caminhar num determinado local, durante um determinado tempo. No entanto, duma forma ou de outra, todos nós, sem tomar expressamente a decisão de o fazer, andamos quando nos deslocamos de um lado para o outro, ainda que seja pouco, ainda que seja em locais poluídos, ainda que seja de forma pouco consciente ou escolhida, apenas porque é a forma de nos deslocarmos para fazer isto ou aquilo, mas, por vezes também, sem que daí resultem grandes benefícios para a saúde.

Vemos portanto, que podemos caminhar sem grande consciência de o fazer, ou podemos fazê-lo de um modo mais consciente e voluntário, porque gostamos, ou para nos sentirmos mais saudáveis.

Tomemos agora a nossa vida como um caminho… Como nos diz o poeta António Machado: Não há caminho, o caminho faz-se ao andar.

O caminho é o espaço que separa o nosso nascimento da nossa morte. É o tempo -duração- que medeia entre o primeiro choro e o último suspiro. Mas esse espaço/tempo somos nós que o preenchemos. Os passos serão nossos, o ritmo será nosso e as direcções escolhidas também. Então o caminho é o percurso que formos construindo entre esses dois marcos.

É certo que a liberdade nunca é total (de resto, se o fosse, impediria qualquer compromisso…), é certo também que, para além da herança genética, o ambiente sócio-económico, cultural, educacional e político do país, local, família, tempo em que nascemos, são alguns dos factores determinantes. Há sempre constrangimentos. Todos os temos, maiores ou menores, duma ou de outra ordem. Mas existe sempre, também, espaço para transformação e mudança, espaço de liberdade e crescimento, também estes, factores determinantes.

Quando sentimos esse espaço de liberdade como não suficiente, talvez seja necessário começar por alarga-lo, já que nos sufoca e nos impede de andar.

Contudo, é bom não esquecer, que muitas vezes, somos nós próprios, por variadíssimas razões, a prender-nos, a tolher a nossa própria liberdade, a impedir-nos de caminhar.

Ficamos então a funcionar num espaço/tempo entre nascimento e morte como se esse fosse o nosso próprio percurso, aquele que o destino nos concedeu, não tendo consciência que essa existência sem marca, não tem de ser a nossa vida, sendo apenas o tempo, o acaso e as circunstâncias a desenrolarem-se e a exporem-se perante nós, ficando nós como espectadores que reagem ou não, mas não agem nem sobre si nem sobre o ambiente.

Ao perdermos a oportunidade de transformar a nossa existência/duração e as suas circunstâncias na nossa própria vida, ao não agarramos nessa existência – essa massa informe – para lhe dar forma, limitamo-nos a habitar um espaço e um tempo, sem vontade nem alento, como se alguém, que não nós, pudesse indicar-nos e escolher o nosso caminho melhor do que nós mesmos.

Se qualquer de nós é único, porque haveria de ser o nosso caminho ou o ritmo a que o percorremos, igual ao de um outro?

Como poderá qualquer outro ter a ousadia de saber qual deverá ser o meu caminho?

Por vezes andamos perdidos e confusos. Se aceitarmos esse tempo como necessário e como fazendo parte do nosso caminho, um compasso de espera para tomarmos decisões, poderemos tolerar melhor esses momentos de incerteza. Tão desajustado e perigoso pode ser navegar continuamente contra a corrente, como deixar-nos constantemente ir ao seu sabor. No primeiro caso podemos consumir demasiada energia e não conseguirmos usufruir de tranquilidade, no segundo caso, podemos desaguar onde não queremos, sem nos realizamos, sem nos cumprirmos. Saber escolher alturas e tempos para optar por um ou por outro é fundamental.

Caminhar com saúde mental é construir o caminho sabendo dosear esforço e repouso, sabendo observar, escutar, sentir, reflectir, agir e reagir, sabendo planear, mas também improvisar e aceitar o imprevisto.

É fundamental ganhar consciência de que a vida não é nem uma corrida, nem um concurso de perfeição, nem uma competição. É uma construção pessoal única, irrepetível e inigualável. Sempre!

Esse processo de criação do nosso próprio caminho está cheia de aprendizagens, em que os “erros” fazem parte. Medo de errar é medo de viver, é receio de caminhar e, no entanto, a morte não chegará mais tarde por isso, apenas surgirá com um sabor mais amargo, o sabor do vazio de não se ter construído um caminho.

Caminhar é uma descoberta, do próprio, dos outros e da vida, porque, se “não há caminho”, então ele não é mais do que o nosso próprio desenvolvimento e construção, às vezes por tentativa e erro, em que não deve haver receio de retroceder, de cair, de sair magoado, de fazer um desvio, de parar… Enfim, de fazer desse caminhar uma aventura, nuns dias mais ousada, noutros mais previsível e calma, numas alturas com acontecimentos que nos transcendem, noutras, colhendo os frutos do que fomos semeando (conscientemente ou não…), por vezes sozinhos, outras acompanhado, numa viagem que se deseja plena de autorrealização.

Quanto mais realizados nos sentirmos neste caminhar, melhor será a nossa saúde e bem-estar, melhor estaremos connosco e com os outros, mais preparadas estaremos para o final do caminho.

Cristina Marreiros da Cunha – Psicóloga e Psicoterapeuta

A Nossa Saúde Mental

A nossa Saúde MentalSabemos que a fome mata nalgumas partes do mundo, duma forma que nada tem a ver com o que acontece nos chamados países desenvolvidos. As condições de saúde são outro dos grandes diferenciadores entre os países do chamado primeiro mundo e os países subdesenvolvidos. As grandes epidemias que dizimam milhares de vidas e os escassos recursos duma parte do planeta, não se comparam ao tipo de doenças e às condições sanitárias a que nós temos acesso. Nesta parte privilegiada do globo os problemas de saúde com que nos vemos confrontados estão, cada vez mais, associados a doenças que de alguma forma se podem prevenir introduzindo mudanças em hábitos comportamentais. Ou seja, vivemos num lugar e num tempo em que os nossos comportamentos assumem um papel preponderante na saúde que vamos tendo.

Não constitui hoje novidade que a actividade física regular e cuidados com a alimentação, assim como um estilo de vida saudável em ambientes pouco poluídos, constituem uma mais-valia para um percurso com saúde. A esperança de vida continua a aumentar, mas a consciência de que esse aumento de longevidade pode ser feito com tanto mais saúde, quanto nós enveredarmos por escolhas saudáveis, felizmente também.

Há contudo alguns aspectos que convém lembrar. Por um lado a hereditariedade e a genética têm uma palavra a dizer na longevidade e na forma como se desenvolvem algumas doenças. Por outro, a forma como vivemos é importante, não só para evitarmos algumas dessas doenças, como também porque podemos influenciar a altura ou a forma como elas se manifestam e a que velocidade e intensidade vão ou não infligir os seus danos.

Todos sabemos que “os acidentes acontecem”. Mas nunca antes tivemos tantas condições para prevenir alguns desses acidentes como actualmente. Não é seguramente saudável viver angustiado ou obcecado com a prevenção de acidentes, ou com o nosso estado de saúde, mas adquirir hábitos saudáveis, como uma nova rotina, e visitas regulares ao médico está ao nosso alcance.

Enquanto psicóloga clínica e psicoterapeuta, preocupo-me especialmente com a saúde mental. É curioso, pensarmos e darmos como certo que conseguimos treinar o corpo para fazer esta ou aquela habilidade (atletismo, ginástica, dança, malabarismo, tocar um instrumento musical, etc, etc) e termos dúvidas sobre como podemos treinar a nossa mente ou mudar alguns dos nossos comportamentos. Certo é que a plasticidade neuronal faz com que tal seja possível.

Em saúde mental também surgem problemas de doença que ocorrem por acidente, hereditariedade ou problemas genéticos, mas a grande parte dos problemas de saúde mental que nos afectam ao longo da vida surgem de questões ambientais/educacionais/comportamentais e, na grande maioria dos casos, da combinação de factores de vária ordem que influenciam a forma como nos sentimos e como percepcionamos e pensamos o que nos rodeia, isto é afectam as nossa crenças sobre nós e os outros, as nossa vivências e o modo como gerimos as nossas emoções.

Quer na doença mental, quer na recuperação e manutenção da saúde psicológica, é possível melhorar através de novas formas de olhar a doença, a saúde, de nos olharmos a nós próprios, os outros, a existência, a vida, ou seja, através de mudanças com as quais nos podemos comprometer.

Todos nós necessitamos de sermos únicos e ao mesmo tempo de nos sentirmos próximos, ou seja, a nossa necessidade de diferenciação é tão importante como a nossa necessidade de intimidade. A nossa necessidade de paz e sossego é tão importante quanto a nossa necessidade de actividade e procura. A nossa necessidade de estabilidade e rotina é tão necessária quanto a nossa necessidade de inovação e aventura. Se estas e várias outras necessidades são, de alguma forma comuns a toda a gente, o seu grau de intensidade, ou a altura em que preferimos habitar mais um lado ou outro deste contínuo, varia de pessoa para pessoa e na mesma pessoa, varia ao longo do tempo e em diferentes fases da vida.

Evoluir em saúde mental é saber estar atento a essas necessidades, saber escutar as nossas emoções, ouvir as diferentes partes de nós que muitas vezes nos pedem coisas opostas, viver as contradições, compreender porque existem e aprender a dialogar e regular esse mundo interior que habitamos ao mesmo tempo que regulamos diferenciadamente as nossas interacções com o nosso mundo exterior.

Melhorar a nossa saúde mental é aumentar o grau de conhecimento sobre nós e o grau de liberdade e responsabilidade pelas escolhas que fazemos, tornando-as verdadeiramente nossas.

Viver com saúde mental, é conseguirmos conviver com um mundo infinitamente grande e muito maior do que nós (macroscópico), sem, por isso, nos sentirmos insignificantes e, simultaneamente conseguirmos conviver com um mundo infinitamente mais pequeno que nós (microscópico), sem que isso nos faça sentir Reis ou donos do Mundo.

Abraçar a nossa saúde mental é conseguirmos interagir com o que nos rodeia e olhar para nós simultaneamente, como uma simples nota musical, de timbre, altura e intensidade única ou como uma gota de tinta, de brilho, cor e tonalidade específica, mas também como uma linha melódica ou um movimento de pincel, e ainda, e também, como um todo composto por partes; uma sinfonia em curso, ou um quadro que se vai transformando, como um bailado de nós connosco e de nós com os outros.

Cristina Marreiros da Cunha – Psicóloga e Psicoterapêuta

Aceitação, uma palavra complexa

Aceitação

Aceitação, uma palavra que merece a nossa atenção nesta época de balanços de final de ano e planos para o Ano Novo.

As várias ciências e disciplinas têm um vocabulário que lhes é próprio. Quando o vocabulário não faz parte da linguagem comum, é mais fácil perceber que estamos perante uma linguagem técnica, mas quando são utilizadas palavras que fazem parte do léxico de todos nós, as interpretações tornam-se mais confusas. Tomemos por exemplo a palavra “positivo”, tantas vezes utilizada na linguagem vulgar, para designar algo de bom, mas cujo significado em ciência é apenas o de: estar presente, existir, poder assinalar-se.

Sabemos o quanto um resultado “positivo” numa análise laboratorial, pode revelar-se negativo para o nosso bem-estar…, mas pode também revelar-se positivo, dependendo de a que é que se refere a “positividade”

Em Psicologia, tal como noutras ciências ou áreas específicas do Saber, encontramos muitas palavras que são utilizadas na linguagem comum, mas que se revestem de um significado mais restrito e específico, ou mesmo diferente no âmbito dessa área.

Actualmente ouvimos cada vez mais a palavra “aceitação”.

 “Aceitarmo-nos a nós próprios”; “aceitarmos os outros” “aceitarmos a vida e as suas vicissitudes” “aceitarmos incondicionalmente os nossos filhos”…

Mas o que significa em termos psicológicos de facto “aceitar”?

“Aceitar” significa simplesmente não negar a existência e encarar com verdade o que é, e o que está, englobando essa realidade.

Aceitação não significa aprovação, consentimento ou resignação a essa mesma realidade, isto é, não implica qualquer tipo de aquiescência, abdicação ou renúncia. Implica, isso sim, aceitar a realidade da existência, de forma a podermos responsabilizar-nos por esse facto, conhecimento, ou constatação.

Aceitação é mesmo o primeiro passo para se poder escolher mudar, ou não, o que está e o que é, quando tal é possível, e pacificarmo-nos quando não o é.

Aceitação é sentir e perceber que os outros são o que são e que não podemos querer que eles sejam como nós desejaríamos que fossem

Aceitação é, neste sentido, o contrário de negação. Ao que é negado não é reconhecida existência, logo não fica ao alcance do nosso pensamento ou acção.

Para que possamos pensar sobre, agir, transformar, incorporar, lutar, pacificar, necessitamos em primeiro lugar de aceitar a existência duma determinada realidade, facto, emoção, pensamento.

É apenas a partir dessa plena aceitação e fruto dela, que podemos conscientemente decidir o que fazer.

Olhemos para a realidade do dia a dia:

Se não aceitarmos que estamos doentes, não faremos nada para nos tratar.

Se não aceitamos que alguém legislou mal, não podemos lutar para que legisle bem,

Se não aceitarmos que os nossos filhos precisam de ajuda especializada, não a procuraremos nem os ajudaremos

Se não aceitarmos que os outros são como são, não podemos amá-los incondicionalmente ou afastarmo-nos e protegermo-nos dos seus abusos.

Se não aceitarmos que vida pode ser injusta, nada faremos para que seja mais justa,

Se não aceitarmos a morte como inevitável, não viveremos a vida plenamente.

O mesmo se passa com a nossa realidade interna:

Quando negamos e evitamos as nossas próprias emoções e pensamentos, estamos a impedir-nos de aceitá-los, logo estamos a impedir-nos de agir sobre eles.

Acontece que todos nós temos tendência para negar e/ou evitar o que é desconfortável e doloroso, mas ao fazê-lo, estamos a negar-nos a possibilidade de qualquer mudança. Ficamos pois, cativos da dor, da zanga, da frustração ou da resignação, que nada tem que ver com aceitação.

Aceitar profundamente o que não pode ser mudado é também um passo para a sabedoria de perceber a diferença entre o que pode e não pode ser mudado

(tal como nos recomenda a Oração da Sabedoria)

Nesta época de planos e esperança num novo ano, talvez possamos começar por escutar e olhar a nossa realidade e abraçá-la aceitando-a pelo que é. Por vezes, esta aceitação é o ponto de chegada de que necessitamos para fazer face a determinadas realidades que não podemos controlar e que estão fora da nossa vontade ou acção. Outras vezes, a aceitação é simplesmente o ponto de partida para podermos alterar, transformar, evoluir.

A aceitação plena é uma libertação e, como tal, permite mais escolhas, tomadas de decisão e um maior grau de satisfação connosco e com a vida.

Cristina Marreiros da Cunha – Psicóloga e Psicoterapeuta

Equilibradamente em desequilíbrio

equ inst

Sometimes to loose balance is part of living a balanced life.

Quando pensamos no que é que queremos para a nossa vida, do que é que precisamos para a nossa saúde mental, cada vez mais reconhecemos que precisamos é de equilíbrio, em contraponto a uma busca utópica de um estado permanente de felicidade e bem-estar.

Apesar deste reconhecimento, velhos hábitos são difíceis de deixar, e o risco é desejarmos sim equilíbrio, mas deturparmos o conceito e rigidificarmo-nos numa postura de não nos permitirmos nem grandes desânimos nem grandes entusiasmos, contentarmos-nos com o mediano, como se equilíbrio fosse sinónimo de meio-termo,  nem muito nem pouco, assim-assim.

Clarifiquemos então a ideia de equilíbrio:
Equilíbrio é um “estado” dinâmico de compensação de forças em que, quando puxo para um lado, activo em consequência uma força contrária que puxa para o outro, no sentido de não permitir a queda ou a destruição. Equilíbrio não é portanto um estado estático mas implica um movimento oscilatório entre pólos opostos, sempre com duas forças contrárias e compensatórias a puxar. Equilíbrio não é uma coisa que se adquire mas um processo que se vive.

Paradoxal que possa parecer, estar em equilíbrio implica portanto estar disponível para para o perder aqui e ali.
Neste sentido, talvez a pergunta-chave não seja como é que me equilibro mas como é que me disponibilizo para me desequilibrar.
E disponibilizo-me para me desequilibrar quando me permito sentir o que estou a sentir, seja agradável ou doloroso, quando arrisco experimentar coisas novas, diferentes, quando me permito depender momentaneamente dos outros quando preciso de colo e afastar-me momentaneamente quando preciso de dar os meus passos sozinho… Quando confio que posso dar qualquer passo porque sei que tenho a capacidade de analisar os erros, de analisar o risco, e confio que quando necessário consigo mobilizar recursos num sentido compensatório e recuperar o equilíbrio ou transformá-lo num equilíbrio diferente, mais adequado às novas necessidades ou exigências.

Preciso confiar que consigo estar próximo da queda sem cair. Preciso disponibilizar-me para o desequilíbrio para viver equilibradamente.

Não esqueça: não se atinge o equilíbrio, vive-se equilibradamente em desequilíbrio.

Joana Fojo Ferreira – Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta