Somos como somos ou podemos mudar?

Somos como somos E podemos mudar.

Somos? ou vamos Sendo?

Somos E vamos Sendo.

Somos um conjunto de aspectos mais ou menos estruturais, comuns a uma espécie, a uma génese, a uma herança genética e cultural/ambiental.

E

Vamos Sendo um conjunto de processos dinâmicos, dialeticos de interacções constantes com o meio em que estamos inseridos (afectivo/relacional, social, cultural). que interaje constantemente com os traços próprios de quem somos e de quem nos vamos construindo.

Somos uma obra única e em constante mutação, que, à medida que se vai desenvolvendo vai acrescentando novos materiais, uns por necessidade, outros porque se nos colam… E, outras vezes vai prescindindo de materiais iniciais, uns porque já não fazem falta, outros por que nos foram sonegados. Há assim potencializações e despotencializações constantes, que afectam o nosso processo de auto-construção e dos quais nem sempre estamos conscientes.

Independentemente do que somos e trazemos connosco à nascença, tudo o que vamos sendo depende da nossa interacção com todos e tudo o que nos rodeia. Essas tensões e distensões provocadas pelas diversas forças que operam no processo de auto-construção nem sempre são claras ou lógicas, e muitas vezaes são contraditórias e causam sofrimento. São fruto de inúmeros e complexos processos Psicológicos.

A escuta das nossas emoções primárias (surpresa, medo, zanga, tristeza, alegria, nojo) e a atenção ao diálogo que estabelecemos com elas (ou que outros estabeleceram com elas) e ao que conduziram secundariamente, são essenciais para nos podemos compreender e construir de forma equilibrada e satisfatória.

A desregulação emocional não está na desordem/desequilíbrio ocasional, que faz parte do processo dinâmico dialético que é a vida, e que ocasionalmente, nos é tão necessária para uma reordenação e reorganização interna, mas apenas em traços extremos, inadaptativos, inflexíveis e/ou causando sofrimento contínuo, que impedem o reencontro com o equilíbrio.

O que fomos absorvendo, o que se nos foi “colando” e o que fomos prescindindo, sem querermos, sem nos apercebermos, ou, porque nos foi útil/inútil em determinada altura, deve ir sendo filtrado ou recuperado, para podermos tomar posse de quem vamos sendo, de uma forma mais consciente e livre, pois afinal, somos o que somos, em constante mutação e somos possuidores de um enorme potencial de mudança e adaptação.

A responsabilidade de sermos livres e nos sentirmos realizados é nossa. Contudo, esta tarefa nem sempre é fácil e é natural que requeira ajuda profissional num momento ou noutro das nossas vidas. Ir esculpindo o nosso Ser é obra nossa.

Cristina Marreiros da Cunha – Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta