– O meu pai estava no hospital e eu andava de volta dele como se fosse uma enfermeira. Foram tempos muito difíceis também para mim, porque me custava imenso ver o meu pai naquelas condições. Por um lado eu queria que o meu pai estivesse num lugar melhor, numa clínica com condições, mas por outro lado eu queria que o meu pai fosse acompanhado pelos médicos que sempre o seguiram. E eu andava nesta tortura, quero que ele saia porque o hospital não tem todas as condições que eu desejaria que tivesse, quero que ele fique por causa dos médicos – a minha cabeça vivia nesta tortura! Para o fim eu estava exausta! Até que um dia entrei na capela do hospital e dei por mim ajoelhada e, de repente, virei-me para Deus e disse-lhe: Seja o que tu quiseres! – entreguei tudo! – se o meu pai tem que passar por tudo isto aqui, se é essa a tua vontade, então assim seja! Seja o que tu quiseres. E sabe o que mais?
– Sim?
– Logo que fiz isso veio uma paz enorme. Algo que nem eu sei explicar… Uma paz imensa…
– Eu compreendo. Ficou resolvido o conflito que trazia dentro de si.
– O conflito?
– Sim, entre o que você desejava para o seu pai e o que o seu pai tinha na realidade… Havia um conflito permanente aqui…
– Sim, havia.
– E este conflito era uma forma de estar permanentemente a dizer “não” à realidade.
– Sim.
– E quando se ajoelhou e falou com Deus isso mudou.
– Aí eu entreguei os pontos. Aceitei tudo o que estava a acontecer. Tudo, sem excepção.
– Aí você parou de resistir. Aí decidiu dizer que “sim”, e a resistência à realidade cessou – o conflito ficou resolvido, como que por magia.
– Eu falei para Deus.
– O que quer que tenha feito, o milagre que aconteceu dentro de si chama-se “aceitação”.
Este diálogo com uma paciente minha fez-me recordar o poder inacreditável da aceitação e da experiência quase inenarrável de paz que dela advém.
Fez-me pensar o quanta energia gastamos em pura e simplesmente negar a realidade, e no sofrimento a que nos submetemos desnecessariamente pela nossa incapacidade de nos sintonizarmos, duma forma plena e inteira, com o que nos é oferecido viver.
Vemos esta negação da realidade acontecer todos os dias dentro de nós e à nossa frente, desde alguém que se exaspera com um engarrafamento de trânsito (como que a dizer ao Universo: – Isto não é justo!) à nossa irritação porque o dia de praia veio sem sol e sem calor (como se o Universo tivesse conspirado para arruinar o nosso fim de semana).
Quando tudo o que temos a fazer é parar de negar a realidade, parar de negar o que nos é oferecido viver.
Quando aceitamos profundamente o que acontece aqui e agora, deixamos de desejar que o que está a acontecer seja diferente (como se realmente pudesse sê-lo!).
A aceitação, mais que uma mudança de ponto de vista, é o abdicar de pontos de vista para aceitar o que quer que seja que se esteja a vivenciar.
Mais do que “cair na real”, é aceitar a realidade como se esta fosse a única e melhor forma de tudo acontecer.
É parar de resistir.
“-What we resist, persists.”
Diremos mais: “-What we accept, transforms.”