“Se eu não ligar, vai desaparecer.”
Reconhecer e gerir emoções são sem dúvida algumas das grandes mais-valias associadas a um processo psicoterapêutico. A dificuldade em identificar e expressar o que se sente, para algumas pessoas surge como algo muito assustador começando elas a desenvolver, ao longo da vida, estratégias de evitamento das suas emoções com o objectivo de não serem vítimas das mesmas. Isto acontece, sobretudo, porque a ideia de se ser uma pessoa que expressa emoções é facilmente confundida com a ideia de ser uma pessoa emocional e esta, por sua vez, com a de ser uma pessoa descontrolada e/ou fraca.
A forma como nos damos conta das nossas emoções é através das nossas sensações internas. São estas sensações que nos informam sobre as emoções que sentimos. Grosso modo, pessoas com dificuldade de gestão emocional não conseguem identificar as suas sensações internas e traduzi-las em emoções porque facilmente se desligam ou desviam a sua atenção das mesmas. A grande maioria das vezes, o que lhes serve de base para fazerem isto chama-se medo, e também é uma emoção. Outras quando dão por si já estão inundadas emocionalmente e começam a expressar-se abertamente ao mundo quando na realidade o que desejavam era esconder o que sentem.
Para identificar e gerir emoções é preciso acolhê-las. Quando temos medo das nossas emoções procuramos lutar contra elas (rejeitando-as) e esta é a melhor maneira de lhes dar força. Aceitá-las é bem mais eficaz porque quando reconhecidas e escutadas, elas acalmam-se.
As emoções são movimentos da nossa vida interior por isso acolha-as com ternura e respeito. Sendo empáticos connosco próprios, elas não têm necessidade de solução. A única coisa de que se tem necessidade quando se vive uma emoção… é poder vivê-la até ao fim. Imagine o cenário de estar em casa (i.e. dentro do seu corpo), ouvir os passos de alguém em direcção à sua porta (i.e. aperceber-se de uma sensação ainda não identificada no seu corpo) e alguém lhe bater à porta (i.e. dar-se conta definitivamente de que aquela sensação corresponde a determinada emoção). Se não lhe abrir a porta (distraindo-se com outra coisa) vai conseguir com que fique do lado de fora, por algum tempo, mas ela vai insistir novamente para entrar. Com isto, pode começar a sentir uma sensação de pressão/tensão porque existe um rio de energia fora da sua casa que quer entrar e você não deixa. Sabemos que vai querer entrar, nem que seja por uma janela, porque a mensagem que aquela emoção lhe traz é importante para si (i.e. que está triste, zangado, revoltado ou até que gosta de alguém). Insistindo em não deixar entrar, aquilo que vai acontecer, sobretudo se for prolongado no tempo, é que começará a ganhar a sensação de que venceu a batalha e se protegeu do efeito daquela emoção em si próprio. Mas na realidade aquilo que acontece é que, como está numa luta contra aspectos de si próprio, ao afastá-los irá afastar-se do verdadeiro conhecimento de si. Mantida esta estratégia de evitamento pode, com o passar dos anos, começar a sentir-se cansado, entorpecido, preso, confuso e, por vezes, ser mesmo assaltado por uma tristeza ou um medo estranhos. Mesmo quando a vida até nem lhe corre mal.
Por isto, o melhor mesmo é abrir a porta à emoção, deixá-la entrar na sua sala estar, sentar-se com ela e deixá-la percorrer livremente o seu espaço apercebendo-se de que sensações o(a) faz sentir. Por exemplo, se for tristeza pode sentir necessidade de chorar, se for medo, um aperto no estômago, se for zanga, uma vontade de se mexer e libertar-se, se for amor, um quente no peito que encaixa/devolve o coração à sua caixinha. Dê-lhe atenção e assim perceberá mais facilmente a mensagem que lhe traz. Aperceba-se de como e onde a emoção está no seu corpo e pode até falar com ela para melhor a descodificar. Para isto pode fazer-lhe algumas perguntas como: o que é que eu quero, de que é que eu preciso, o que é que me apetece. As respostas a estas questões vão ajudá-lo a perceber o que a sua emoção precisa e isso vai ajudá-lo(a) a acalmar-se no corpo, tornando um visitante indesejável num hóspede conhecido. É bem melhor autorizar a entrada de alguém em nossa casa do que ser vítima de um assalto, não acha?