Quem sou eu? Porquê? Para quê?
Estas três questões inquietam a humanidade desde sempre. São questões que triangulam um mapa terapêutico delicado. Terapeuta e cliente partem em busca de uma identidade mais genuína através da compreensão dos momentos que levam o cliente ao ponto de partida em que se encontra. E a partir daí, construir experimentando um percurso com sentido e significado.
As respostas constroem-se em, pelo menos, três níveis de análise: a universalidade humana, a especificidade cultural e a unicidade individual. Ou seja, compreendendo aquilo que nos torna quem somos num determinado momento.
A psicologia concentra-se em certa medida sobre os universais que nos permitem a extrapolação e a generalização da conceptualização sobre o que é e o que se espera de um ser humano.
Por outro lado, em termos terapêuticos, a tendência inicial é a de apreendermos toda a unicidade que torna esta pessoa, a que se senta mesmo aqui em frente, diferente de todas as outras pessoas que conhecemos.
A “roda da diversidade” apresentada por Loden há quase 20 anos cruza aspectos tão diversos como a educação, a etnia, o género, a idade, a nacionalidade, as competências comunicacionais, as crenças políticas, a religião, etc., aos quais muitas vezes atribuímos um valor inferior ao que potencialmente têm.
Ela permanece actual e ilustra como na intersecção única das diversas dimensões intermutáveis encontramos a nossa pertença e a nossa identidade. Somos únicos, sim, mas somos também iguais. E, ao nível da especificidade cultural, somos um conjunto de pertenças que nos diferenciam. Esta multiplicidade de pertenças define-nos de formas que muitas vezes passam despercebidas. Nem sempre estamos conscientes das nossas pertenças, das nossas referências e este é também um desafio em psicoterapia. Eu posso compreender o outro quando tenho em consideração que cada uma destas dimensões (e mais ainda!) contribuem não só para o momento em que a pessoa se encontra como também para a sua própria percepção desse momento.
Voltemos ao início, atentemos na inquietação das perguntas que trouxemos, munidos de mais precaução.
Quem sou eu? Responder a esta pergunta carece agora de mais cuidado. Eu sou eu, em contexto, em tempo, e em relação com os meus eus semi-parcelares que ganham vida em determinados momentos e se esbatem noutros.
Porquê? Porque vivemos em permanente busca pela harmonia e para isso, atendemos a muito mais eus do que poderíamos à partida imaginar. Todos eles genuínos, todos eles válidos.
Para quê? Enfim, para que possamos ser aquilo que todos aspiramos: ser mais felizes.
“A felicidade consiste em dar passos na direcção de si próprio e ver o que se é.” (José Saramago)
Ana Baptista de Oliveira, Psicóloga e Psicoterapeuta