O que é que acontece? Apesar de numa relação termos à partida um objectivo comum, alimentar a relação, mantê-la viva e saudável, não deixa de ser verdade que temos duas pessoas na equação, muitas vezes com registos de funcionamento diferentes, cujo contraste pode criar choque e este choque prolongado no tempo cria padrões de interacção desadequados com uma escalada de frustração, agressividade e/ou afastamento.
Quando dentro destes ciclos desadequados de interacção, as dificuldades são duas:
- Primeiro é muitas vezes difícil para cada elemento do casal aceder ao que está a sentir, começa-se a funcionar em modo automático, em que atacamos o outro e nos defendemos dos ataques do outro, sem conseguir parar para pensar o que é que está a acontecer comigo, dentro de mim, o que é que eu estou a sentir que faz com que eu aja desta forma agressiva ou, pelo contrário, demasiado distanciada?
- Segundo é muito difícil partilhar de forma adequada o que se está a sentir e o que precisaríamos do outro, da relação, e tendemos a ser críticos e culpabilizantes do outro, apontar-lhe o dedo, crê-lo intencionalmente agressivo ou negligente, mais do que verdadeiramente expressarmos as nossas vulnerabilidades, as nossas angústias, as nossas emoções, as nossas necessidades.
No sentido de tentar quebrar estes ciclos e de tanto aceder como expressar emoções e necessidades em casal, sugiro o seguinte exercício[1]:
Numa folha de papel desenhe uma tabela como a seguinte:
Como? Deixo um exemplo: Quando tu chegas tarde (situação), eu sinto-me zangada (reacção emocional) e reajo criticando-te (reacção comportamental). Isto esconde a minhaansiedade e sentimento de rejeição (emoção de base). O que eu preciso realmente é sentir que sou importante para ti (necessidade geral), e portanto preciso quetu me ligues a avisar que vais chegar mais tarde (necessidade específica).
Desta forma, a nossa activação emocional tende a baixar e a receptividade do outro à nossa necessidade tende a aumentar. É como se encontrássemos aqui um ponto de equilíbrio em que conseguimos comunicar um com outro, cria-se um espaço para ouvir e ser ouvido.
[1] do livro Emotion-focused couples therapy: The dynamics of emotion, love, and power de Greenberg e Goldman (2008)
Excelente reflexão sobre COMUNICAÇÃO em casal.Sendo eu também Terapeuta de Casal e Familiar, ponho sempre à consideração de ambas as partes que quando um casal se une, formam uma terceira “entidade” que é a relação em si mesma, para que cada um não deixe de ter vida própria (e assim passarem a ser zombies na relação), para que não vivam apenas em função de agradar ao outro a todo o custo (dando sangue, suor e lágrimas), mas que sintam verdadeiramente que têm um papel essencial na vida um do outro, e que é a “relação” que precisa de ser cuidada, alimentada e nutrida diáriamente, porque em última análise, nenhum dos componentes é criança(ou não deveria ser pueril 🙂 ), e portanto não precisam de ser apaparicados a toda a hora.
Comunicar com empatia, compaixão e atenção plena!…