No nosso dia-a-dia, confundimos muitas vezes tristeza e depressão. No entanto, a primeira é uma emoção, comum a todos os seres humanos e essencial à sua sobrevivência, na maioria das vezes adaptativa, enquanto que a segunda, já é uma perturbação emocional.
Sendo assim, porque ficamos tristes?
A tristeza é uma resposta a uma perda de algo ou de alguém, normalmente relacionada com um acontecimento já ocorrido, ou seja, ligada ao passado.
A maioria das pessoas depois de chorar fica com uma sensação de alívio. A tristeza permite-nos descansar, a recuperar as energias e ajudar-nos a deixar ir o que já perdemos, o que já acabou e a abrir espaço para novos acontecimentos. Após a sua expressão adequada, renovamo-nos, entregando o passado ao passado e movemo-nos para o presente, para o “aqui e agora” prontos e abertos para novas possibilidades. A tristeza tem também uma função adaptativa na nossa relação com os outros, uma vez que provoca empatia e cuidado, convida ao consolo e à ajuda por parte dos outros.
Assim, não é de todo saudável reprimir a tristeza. Só sentindo-a, contrariamente ao vinculado na nova corrente da Psicologia Positiva, poderemos elaborar a perda, seja ela qual for: ente, querido, emprego, objecto pessoal, etc. Devemos dar-lhe espaço, para mais tarde, qual “Fénix renascida das cinzas”, nos reerguermos mais capazes e confiantes.
Catarina Barra Vaz
É importante esta percepção da tristeza como uma emoção útil, imprescindível e adaptativa, sobretudo quando se vive numa sociedade regida pelos valores do hedonismo: “o que é agradável é bom e o que me faz sofrer é mau”.
Não se trata aqui de cultivar a dor – como dizia alguém: “suffering is overrated”.
Trata-se de validar uma emoção fundamental que nos permite re-mapear o mundo após uma perda, que nos permite reformular o chão que pisamos e, em, última análise, quem somos depois da perda.
Um dos trabalhos fundamentais da psicoterapia com os “evitantes” (e não estou a falar da perturbação evitante mas apenas de pessoas que aprenderam disfuncionalmente a não vivenciar ou a ignorar as suas emoções) é esta reaprendizagem das emoções (desagradáveis também), como se em alguma parte do seu percurso vivencial estas pessoas tivessem decidido pôr de lado estes marcadores fundamentais – as emoções – e decidissem conduzir-se na vida ignorando-as.
É como o condutor de um automóvel que decide ignorar determinado tipo de sinais de trânsito, expondo-se a múltiplos acidentes (disruptivos) porque, a dado momento do seu percurso, desaprendeu a sua leitura.
Recordo duma paciente em psicoterapia que manifestava a sua estranheza por um casal de amigos seus insistir com ela para vir um uma discoteca divertir-se imediatamente após a perda dum familiar: “Precisas de sair dessa e depressa!” – como se tivessem receio que a dor – justificada e legitima – a fosse destruir.
Um certo mestre contemporâneo da psicoterapia diz que “a depressão só acontece quando não nos permitimos ficar tristes”.
Parabéns por este espaço de excelência, onde se debatem temas, com pertinência. Cláudia Moura
Obrigado pelo seu encorajamento!
Gostei muito daquilo que disse. Penso que, muitas vezes, as pessoas confundem a tristeza com a depressão, a ansiedade normal com “nervos, ou a pessoa está em pânico, ou está com fobias”…….
Vivemos num mundo que ultimamente tem “psiquiatrisado” quase todas as nossas emoções e os nossos sentimentos, e na realidade, muito daquilo que sentimos faz parte da vida, e da realidade que vivemos no dia-a-dia. Por vezes pode ser doloroso, mas ainda bem que conseguimos sentir.
Obrigada.